Um último olhar antes de seguir em frente… o Porto visto por Nuno Miguel Ramos

Welcome to Porto foi um dos destaques na apresentação das coleções do primeiro dia do Portugal Fashion 48, a edição passada no sofá. Nuno Miguel Ramos foi um dos criadores que aceitou mostrar o Porto espelhando nas suas criações o que observou numa “Ride” pela cidade…

A juntar às imagens que ficam da sua coleção, ficam as palavras do próprio que descreve de forma detalhada a inspiração que esteve na base de “Ride”

“Ultimamente na situação em que vivemos, foi complicado comunicar, foi complicado abraçar. Foi complicado…  Com a liberdade condicionada foram muitas as vezes que entrei em modo “desespero”!  Medo?  Talvez… Mas arranjei uma solução. Quando sentia que precisava muito de estar em controlo absoluto de mim e da minha vida, ia alugar um carro por 24 horas e tirava um dia de folga. Andei as voltas no Porto, para cima pra baixo, das Antas até a Foz, ir e vir, três, quatro, cinco, dez vezes. Foi e vai para sempre ser a minha terapia. 

Conduzir sem destino. Imaginando as peças que queria fazer, imaginando o movimento. Imaginando os abraços e lagrimas depois de estar tudo feito… Imaginando voltar ao normal. A foto que nunca me saiu da cabeça foi a daquela rapariga. Parada dentro do carro. Um olhar para trás. Um último olhar antes de seguir em frente, só em frente e para sempre. Um olhar firme. Um ciclo concluído. O calmo antes da tempestade. A certeza de que finalmente esta a fazer a coisa certa. Para ela. Para mim. Um ir para sempre. O apossematismo descreve uma série de adaptações antipredação em que uma aparência visual serve como sinal de alerta sobre a inapetência aos potenciais predadores. Padrões de coloração, formatos corporais ou sons que informam aos inimigos naturais o potencial de defesa da presa. É tudo uma questão de “proteger” a pessoa que usa as minhas peças. Formas, volumes, cores, texturas, materiais. Uma “armadura”. Respeito. Confiança. Fiz uma colaboração com IOLO. O IOLO é um negócio social que pretende manter viva a técnica de tapeçaria bordada em ponto de arraiolos, através da inserção social de pessoas em situação de vulnerabilidade e do design como ferramenta de inovação. Desafiei-os para criarmos uma mala. É um negócio social e não financeiro. Todos os lucros são reinvestidos na cadeira de valor social e distribuídos de maneira justa aos ilustradores e artesãos. Depois e para sempre, falta-me Paris. Falta-me a festa de quinta a noite no Castel. Falta-me o por do sol impressionista. Falta-me o nascer do sol nas escadas de Montmartre. Falta-me o cheiro a Eau de Parfum nas ruas.”

Fotografias: Ugo Camera

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