Clothilde, Scúru Fitchádu, indignu e O Gajo entre as seis bandas portuguesas no Amplifest 2022

Clothilde, indignu, Luís Fernandes, O Gajo, Process of Guilt e Scúru Fitchádu (na foto) são os nomes nacionais que integram o alinhamento da edição deste ano do Amplifest.

A ter lugar nos primeiros dois fins-de-semana de outubro (7 a 9 e 14 a 16) o evento aproxima-se daquela que será a sua maior e mais ambiciosa edição de sempre.

 

Em qualquer conversa com Clothilde sobre a sua música, surge com recorrência a expressão “as minhas máquinas”. Refere-se à maquinaria e aos sintetizadores modulares que Zé Diogo, o seu parceiro, constrói para Clothilde criar as suas ambiências únicas. Ouvindo-se a sua intrigante música, fica a sensação de que Clothilde e elas – as máquinas – são um ser único que, quando em funcionamento, se deixam dominar pela imprevisibilidade do momento. Ambos sabem como e para onde ir, mas as formas e cores para se lá chegar parecem ser sempre desconhecidas. “Twitcher” (Labareda, 2018) e “Os Princípios do Novo Homem” (Holuzam, 2021) oferecem coordenadas para a intensidade da procura da realidade de Clothilde: som puro, orgânico e claro – exactamente como soará entre as paredes do Hard Club, durante o Amplifest 2022.

 

O pendor neoclássico do pós-rock praticado pelos indignu traz à memória referências incontornáveis como os Godspeed You! Black Emperor ou os Mono; no entanto, a portugalidade e o sentimento telúrico que permeiam as paisagens sónicas evocadas pelo colectivo liderado por Afonso Dorido e Graça Carvalho confere-lhes um cunho inconfundível. Após terem demonstrado a sua mestria em álbuns como Odyssea e Umbra, trabalhos que conduziram os indignu a um merecido reconhecimento internacional, o regresso às edições carrega o nome Adeus – o mais completo e maduro disco dos barcelenses até à data, e que terá a sua apresentação na edição de 2022 do Amplifest.

 

A atividade artística de Luís Fernandes tem sido marcada pela multiplicidade de abordagens, formatos e disciplinas artísticas, repartindo-se por diversos projectos e colaborações, bem como pelo trabalho em nome próprio. Destacam-se, a título de exemplos, os trabalhos com as bandas peixe:avião e La La La Ressonance, bem como o prolífico duo que mantém com a pianista Joana Gama desde 2014. O ano de 2019 acrescentou uma nova dimensão à sua atividade individual, com a edição de Demora (Room40) e Seis Peças Sintetizadas (Holuzam), discos que assinou, pela primeira vez, em nome próprio. É a partir deste corpo de trabalho que nos é proposta uma nova etapa. A eletrónica em tempo real, em diálogo com dimensões acústicas, arquiteturais e temáticas, será a base para uma performance site specific durante o Amplifest 2022, durante a qual Fernandes tecerá composições particulares no momento, percorrendo uma linha ténue entre a possibilidade do erro e o deslumbramento da descoberta.

 

Música do mundo, e para o mundo” é a tagline que João Morais aplica ao seu projecto O Gajo; é sob este nome que Morais recupera a viola campaniça (ou viola alentejana), um dos mais tradicionais e carismáticos instrumentos musicais de origem portuguesa, oferecendo-lhe uma dimensão inédita de contemporaneidade – sem, no entanto, a despir de toda a portugalidade que a naturalmente caracteriza. O Gajo e a sua guitarra subirão ao palco do Amplifest, para uma performance em que apresentará os temas de discos como Longe do Chão ou Subterrâneos.

 

Tendo aperfeiçoado a sua distinta e inimitável expressão musical ao longo de uma longa carreira de duas décadas, os Process of Guilt são hoje uma das principais forças motrizes e um dos nomes mais sonantes do underground português. Caracterizados por uma abundância de massivos riffs sludge que se justapõe a uma secção rítmica punitivamente precisa e a roçar a cadência do industrial, a banda possui uma intensidade única que já foi anteriormente demonstrada em álbuns universalmente aclamados, tais como Fæmin e Black Earth, bem como nas suas infames actuações ao vivo. O seu último trabalho Slaves Beneath The Sun revela no entanto os Process of Guilt a atingir toda uma nova dimensão em termos de peso e de pura desolação, tal como poderá ser confirmado no Amplifest, no que constituirá a primeira apresentação do novo álbum na cidade do Porto.

 

Enquadrado na dimensão sonora do Afrofuturismo, Scúru Fitchádu nasce da improvável fusão entre a ruidosa transgressão do punk/hardcore com as sonoridades tropicais do funaná cabo-verdiano e as vertentes mais subversivas da música electrónica. O projecto do músico lisboeta Marcus Veiga, que funciona também como um veículo de expressão sobre prementes questões políticas e sociais, tem a sua a pulsação explosiva registada em “Um Kuza Runhu”, de 2020, o registo de estreia em longa duração, que sucedeu a um EP homónimo lançado em 2016. Reconhecido também pelas intensas atuações ao vivo, o fenómeno Scúru Fitchádu tem passagem marcada para o palco do Amplifest 2022.

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