Se o primeiro dia do Festival funciona como uma espécie de warm-up, o que este ano fugiu mais uma vez a essa tendência, o segundo iria revelar-se como o primeiro de 3 grandes dias desta 26ª edição do Festival Vodafone Paredes de Coura. O final da noite prometia com o regresso de Fleet Foxes, mas pelo meio a variedade musical, sempre característica de 25 anos de Festival marcaria a noite com o punk rock dos Shame e o sempre energético The Legendary Tigerman. Seria ao segundo dia que as Vodafone Music Sessions regressavam a Paredes de Coura pela batuta dos The Mystery Lights ao meio da tarde.
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A tarde começava junto ao rio com as sessões de leitura, com a presença de António Zambujo, Sara Carinhas e Manuela Azevedo. Um momento relaxante onde a poesia ecoava pelo vale do rio Coura. A tarde musical fez-se ao som de duas propostas nacionais, o projecto de Viseu Galo Cant’as duas e a aventura a solo de Pedro Pode, S.Pedro. Canções leves que constituíram a banda sonora de uma tarde quente salpicada pela frescura da corrente do rio.
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De regresso ao espaço do festival, o palco Vodafone FM recebia a primeira proposta da noite, os nacionais Fugly. Com uma entrada a pés juntos em palco, os FUGLY mostraram aquela que seria a primeira parte da viagem musical do segundo dia do festival.
Com uma voz gritante, guitarras a arranhar, baixo galopante e um comboio sem controlo que saía da bateria, foi assim a apresentação do álbum “Millennial Shit” lançado no início de 2018. “Hit a Wall”, canção de referência deste disco não ficou esquecida e marcou o momento mais agitado da apresentação.
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Quinze anos depois e pelas 18.30 horas os X-Wife trazem o rock a Paredes de Coura. A banda desperta a assistência logo no primeiro tema. Bem aplaudidos logo ao segundo tema “Keep on Dancing” quando se ouve o público a manifestar pela primeira vez neste segundo dia. A banda do Porto regista o seu regresso 15 anos depois a Paredes de Coura e mostra o seu agrado por aqui estar a tocar. Foram 40 minutos de concerto que mobilizou o ambiente, e a banda como habitual soube passar os seus sucessos de uma carreira já de 17 anos, que regressou em 2018 com um novo trabalho homónimo, onde se destacam os singles “Moving up” e “This Game”. João Vieira dedicou a todo o público da Galiza “Coconuts”, tema cantado em castelhano e incluído neste mais recente disco. O regresso a Paredes de Coura foi a prova viva da energia de João Viera, Rui Maia e Fernando Sousa ao fim de 17 anos continua atual e mais madura, como o vinho do Porto.
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Protagonistas da Vodafone Music Sessions do segundo dia, os The Mystery Lights subiram ao palco Vodafone FM, num início de concerto atribulado mas que acabou por seguir pelos carris do rock sem grandes descarrilamentos. As raízes do rock garage dos The Mystery Lights levam-nos numa viagem até à Califórnia, onde os guitarristas Mike Brandon e Luis “L.A.” Solano formaram a banda durante os tempos de secundário, apesar das suas origens Nova Iorquinas. A adaptação da sonoridade nugget, característica dos anos 60 surge em disco em 2016, quando resolvem gravar o primeiro álbum, homónimo com uma impressionante e assertiva mensagem, quer em conteúdo quer musicalmente. Não deixaram o público indiferente, o que em Paredes de Coura é um sinal positivo, por parte de um público que procura sonoridades mais indiferenciadas.
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Sangue novo era o que se esperava pelo colectivo do sul de Londres Shame, que subiram ao palco no segundo dia pelas 19.40. “Songs Of Praise” era o cartão de visita e simultaneamente o disco de estreia destes rapazes irreverentes liderados por Eddie Green e formados em 2014. O post punk com mensagens politicas e sociais, numa clara crítica à sociedade conservadora como a britânica, caracterizaram a apresentação da banda no Vodafone Paredes de Coura. A violência das palavras levou ao rubro o público que apenas aguardava o primeiro toque para se iniciar na aventura do ‘crowd surfing’. It’s a Shame? Not really, mas sim pura e descontrolada adrenalina musical, como o público de Coura quer e gosta.
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Mas se o ‘crowd surfing’ surge timidamente com Shame, o oposto viria a acontecer com The Legendary Tigerman, onde o anfiteatro se tornaria numa autêntica pista de ‘crowd surfing’.
The Legendary Tigerman sobe ao palco pelas 23.15 horas e como habitualmente o público delira. No seu formato banda com João Cabrita no saxofone, Paulo Segadães na bateria e Filipe Costa no baixo, Paulo Furtado sabe como conquistar as 25 mil pessoas que estavam ali para o ver e ouvir. Puro Rock’n’Roll durante 60 minutos com o público a pedir mais e mais e Paulo Furtado a não se fazer rogado. Um artista português em “hora de ponta” de festival a mostrar aquele que foi um dos grandes concertos da 2ª noite do Vodafone Paredes de Coura.
A irreverência em palco, a agressividade contida de um homem que é “tigre”, é prova mais que evidente que o Rock ‘n’ Roll conquista multidões, numa batalha em palco com João Cabrita no saxofone. A batalha termina com o “tigre” junto do público ao som de “21st Century Rock’n’roll”.
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Costuma-se dizer que de Seattle só chega boa música, exemplos passados não faltam, desde os Nirvana ao Pearl Jam. Surgidos anos mais tarde do boom do grunge em Seattle, os Fleet Foxes seguiram por caminhos opostos ao que surgiu na sua cidade natal nos inícios dos anos 90 do século XX.
Folk simples e despreocupado caracterizam o quinteto que se mudou para Nova Iorque, talvez para se integrar melhor nas sonoridades da “grande maçã”.
A Paredes de Coura trouxeram “Crack-Up”, terceiro registo de originais de uma banda que não tem primado muito pelas edições discográficas. A abrir o concerto “Grown Ocean”, curiosamente do segundo longa duração do grupo. Pelo meio deram a conhecer as novas canções com alguns desvios pelos temas dos dois álbuns anteriores. Depois de um concerto de The Legendary Tigerman, a apatia do público foi visível, com o anfiteatro natural do Coura a perder a ‘pedalada’ dos dois concertos anteriores.
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Welcome to the Jungle…
Como é que uma banda apenas com um disco editado consegue mobilizar um festival?
Como é que Josh Lloyd-Watson e Tom McFarland conseguem transformar um festival numa enorme pista de dança? A resposta provavelmente é mesmo ‘Welcome to the Jungle’.
Deram-se a conhecer em 2014 com o lançamento até à data do seu único trabalho discográfico, intitulado simplesmente “Jungle” (em Setembro sai o segundo disco), mas desse disco surgiram 3 singles que os colocou na cabeça de toda a gente, a prová-lo os mais de dois milhões e meio de plays desses temas. Inebriante pedaço de soul que, apesar do apelo global, não podia ter deixado de nascer na Grã-Bretanha. Quando se diz que os Jungle são uma das melhores bandas do mundo ao vivo, não se está mesmo a exagerar.
“Heavy, California” e “Happy Man” são as melhores provas de que a festa vai continuar, com a mesma alma e uma energia verdadeiramente contagiante, sem esquecer o já clássico “Busy Earnin’”.
Assim chegou-se ao culminar em grande do segundo dia Vodafone Paredes de Coura onde o Rock deu lugar à folk mas a fechar com os ritmos dançáveis de uma soul contemporânea.
Reportagem: Sandra Pinho
Fotografias: Paulo Homem de Melo