Teatro nacional São João “abraça” território nacional e internacional

A programação do Teatro Nacional São João (TNSJ) entre abril e julho acaba de ser anunciada. Os espaços geridos pela Instituição – dos quais fazem parte o Teatro Carlos Alberto (TeCA) e o Mosteiro de São Bento da Vitória – vão receber uma dezena de espetáculos: cinco estreias, incluindo duas produções próprias, três espetáculos internacionais e quatro coproduções. As propostas programáticas incluem ainda iniciativas e projetos que visam reforçar os eixos estratégicos da Instituição, nomeadamente no que diz respeito à política de descentralização da Casa e internacionalização, bem como ao reforço das atividades do Centro Educativo e à aproximação à comunidade escolar.

 

No âmbito da operação de reabilitação do interior Teatro São João, o edifício-sede da Instituição encontra-se temporariamente encerrado, pelo que a programação dos próximos quatro meses estará centrada apenas no TeCA e no Mosteiro de São Bento da Vitória.

 

O elenco “quase” residente – constituído por Afonso Santos, Joana Carvalho, João Melo, Maria Leite, Mário Santos e Rodrigo dos Santos –, apresentado aquando do lançamento do Centenário do São João, vê prolongado o seu vínculo à Instituição. Este aspeto é crucial para que o TNSJ, de forma estável, desenvolva projetos de médio prazo, reforçando a produção e digressão das criações próprias, de que são exemplos recentes Castro, O Balcão ou À Espera de Godot. Este grupo de atores tem também apoiado a Casa em projetos complementares essenciais para a formação de públicos, como oficinas, masterclasses ou leituras dramatizadas.

 

Depois de percorrer grandes nomes do teatro – como Georg Büchner, em A Morte de Danton, ou Jean Genet, em O BalcãoNuno Cardoso, diretor artístico do Teatro Nacional São João, inscreve agora mais um importante dramaturgo no reportório da Casa. Desta feita, o encenador estreia a obra de 1881 do norueguês Henrik Ibsen, Espectros. No espetáculo, que conta o regresso a casa dos pais de Osvald Alving, assiste-se ao estrangulamento das vidas afetivas das personagens e à sua luta pela libertação do conservadorismo e da omnipresença do dinheiro em que se encontram. A produção própria do São João conta com a interpretação do elenco “quase” residente e está em cena no Teatro Carlos Alberto de 20 de maio a 6 de junho.

 

Partindo deste projeto-satélite, Nuno Cardoso juntou-se a Rodrigo dos Santos, membro do elenco da Casa e músico, para criarem Sono. Este espetáculo, que partilha os mesmos temas e obsessões e até o espaço cénico de Espectros, tem como ponto de partida as relações estabelecidas na família que por sua vez são confrontadas e filtradas pela ideia de sono. Dedicado ao público mais novo, com idades compreendidas entre os 6 e os 9 anos, Sono apela à participação ativa das crianças, que vão ajudar a construir esta peça com os seus “poderes” da invenção. A produção própria da Casa estreia-se a 29 de maio, no TeCA, sendo que também pode ser vista nos dias 4 e 5 de junho. A peça está ainda disponível para apresentação em escolas entre 1 e 3 de junho.

 

Castro (1598), do poeta António Ferreira, é uma das obras pioneiras da tragédia clássica em Portugal. Mas como será a história de amor de Pedro e Inês quando reescrita em crioulo pelo jovem dramaturgo cabo-verdiano Caplan Neves? KastroKriola resulta do acordo de cooperação celebrado entre o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, o Ministério da Cultura de Portugal e o TNSJ. A coprodução culmina numa residência de artistas cabo-verdianos na Instituição, em trabalho estreito com Nuno Cardoso e toda a equipa do São João. A peça estreia-se no dia 10 de junho (Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas) e fica em cena até ao dia 12 desse mês, no Mosteiro de São Bento da Vitória. KastroKriola ruma depois a Cabo Verde e pode ser vista no Centro Cultural do Mindelo (25 a 27 de junho) e Auditório da Assembleia Nacional – Praia (3 a 5 de julho).

 

Um dos reptos do TNSJ passa pela digressão das suas produções próprias. Além da já mencionada apresentação de KastroKriola em Cabo Verde, outras criações do São João estarão em evidência. No dia 6 de maio, À Espera de Godot, com encenação de Gábor Tompa, sobe ao palco do Teatro Municipal de Bragança. Achadiço, uma criação de Nuno Cardoso, ruma ao Luxemburgo para ser apresentado no dia 19 de junho, no Théâtre National du Luxembourg. Já Castro, de António Ferreira, com encenação de Nuno Cardoso, sobe ao palco do Théâtre National du Luxembourg (18 e 19 de junho), do Festival de Almagro, em Espanha (7 de julho) e do Centro Cultural de Belém (27 e 28 de agosto).

 

Please please please (na foto), que integra o DDD, assinala o arranque da programação do São João já nos dias 22 e 23 de abril, no Teatro Carlos Alberto. O espetáculo – que uniu a coreógrafa hispano-suíça La Ribot e a francesa Mathilde Monnier ao encenador português Tiago Rodrigues – é uma interpelação lançada às gerações futuras através das duas bailarinas que emprestam o corpo e a alma a uma galeria de personagens confrontadas com a autoridade e a catástrofe, num conjunto de histórias curtas.

 

Integrado no FITEI, e apoiado pelo programa internacional O Olhar de Ulisses – iniciativa inclusiva e plural promovida pelo TNSJ,vai ser possível assistir a Amarillo, com encenação de Jorge A. Vargas, e Artaud, encenado por Sergio Boris. Os espetáculos, que ora refletem as características mais simples da humanidade por entre os impasses da contemporaneidade, ora são uma alegoria da crise e do colapso de um sistema, vão ser apresentados no formato digital, estando disponíveis no palco online do São João (em tnsj.bol.pt). Ainda enquadrado na programação do FITEI, vai ser apresentado o espetáculo Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas, entre os dias 7 e 8 de maio, no TeCA. A peça sobre os últimos 89 anos da história de Portugal conta com texto, direção e interpretação de Joana Craveiro.

 

Com o objetivo de reforçar a sua aposta na descentralização, o São João participa ainda, a partir de julho, no De Volta à Praça, um projeto saltimbanco que conta com a colaboração do Coliseu do Porto e de vários municípios da região do Norte. Circlus e Rasto são os espetáculos “mais ou menos circenses” que prometem tomar de assalto as praças das terras que integram esta itinerância e levar a cada uma delas circo, música, humor, dança ou acrobacia, assim como oficinas de circo e marionetas. Os projetos são desenvolvidos por companhias portuenses – o Teatro da Palmilha Dentada e a Companhia Erva Daninha – e coproduzidos pelo TNSJ. De Volta à Praça decorre entre os dias 17 de julho e 19 de setembro.

 

Até julho, as coproduções da Casa contam ainda com o teatro do insólito de Eugène Ionesco, com Jacques ou a Submissão, uma proposta do Ensemble – Sociedade de Actores, que se estreou online no início de abril e que pode ser vista no Teatro Carlos Alberto, de 28 de abril a 2 de maio. Já entre 10 e 13 de junho, o TeCA acolhe Perfil Perdido, uma encenação de Marco Martins, criada com o estreito contributo de Beatriz Batarda e Romeu Runa, que explora os corpos trabalhados como repositórios de memórias, em metamorfose e desdobramento. Outra das coproduções em destaque é Duelo, de Heinrich von Kleist, com direção cénica de Carlos Pimenta e interpretação de Miguel Loureiro. A peça é apresentada entre 1 e 10 de julho, no TeCA.

 

A reabertura do São João em outubro será assinalada com várias iniciativas. O TNSJ inaugura nesse mês uma exposição sobre os 100 anos de história do edifício-sede, uma mostra que explora a arquitetura, os diferentes fins do espaço, abordando ainda questões como a relação com a cidade e a história do país. Já entre os dias 22 e 24 de outubro, será promovido um colóquio internacional sobre os teatros nacionais na Europa, um momento que irá reunir dirigentes e artistas que trabalharam e reinterpretaram o conceito de teatro nacional e ainda especialistas na matéria.

 

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