Ao terceiro dia de desfiles do Portugal Fashion 51, Susana Bettencourt levou-nos às origens através da perceção humana.
Segundo a criadora, “o olho humano é composto por inúmeros nervos que transportam as informações para o nosso cérebro. A nossa visão de mundo começa aqui, esse primeiro olhar da realidade é fundido com os nossos preconceitos, as nossas memórias, as nossas experiências e as marcas entrelaçadas que a vida criou em nós. A realidade nunca foi essa, a realidade é o desconhecido entre a perceção de uma pessoa e a visão do próximo sobre o mesmo assunto. Mas hoje em dia essa informação tem outros intervenientes, vemos o mundo através de telas e contas editadas nas redes sociais, os nossos olhos já estão a captar a realidade de uma outra pessoa.”
A coleção, Origins Of Perception, reflete sobre essa perceção “entre”, brinca com todas as etapas gráficas que influenciam a forma como essa nova realidade é feita. Dos recetores do olho, à luz, à forma como a imagem e a cor são criadas nas telas e nos nossos olhos.
A coleção SS23 de Susana Bettencourt sustenta a sua criação na utilização das três cores do mundo digital, vermelho profundo, verde floresta, azul vibrante, delineadas pelo preto e o branco. Para além destas cores trazerem consigo uma bagagem nostálgica, as cores que começam a construir o ADN da designer, a paleta transporta-se para um momento em que o mundo digital está cada vez mais presente na vida de cada indivíduo, onde a ponte entre o digital e o físico se torna cada vez mais ténue. Conhecidas pela sigla RGB, estas são as cores que o olho humano perceciona quando está em frente a qualquer ecrã, algo que faz parte do quotidiano de todos.
O conceito é refletido nos grafismos dos característicos jacquards da designer, por si só sempre construídos num universo pixelizado, bem como nas peças feitas através de técnicas manuais de tricotagem e crochet onde se obtém efeitos 3D, flutuações e formas triangulares. Nesta coleção a designer deu palco também a acessórios realizados manualmente com destaque nas malas e chapéus. Susana Bettencourt continua a apostar nas malhas e nas técnicas manuais, algo que será sempre a sua assinatura, desta vez manifestando a sua ligação ao universo digital que sempre fez parte do ADN da marca, referenciando-se aos jacquards realizados digitalmente e desafia o público a olhar para os dois universos como uma simbiose
Fotografias: Paulo Homem de Melo
