O Fascismo [Aqui] Nunca Existiu do Teatro Art’imagem…

Estreado no fim-de-semana passado, a 107.ª criação do Teatro Art’Imagem, na segunda apresentação do espectáculo ao público, numa co-produção do Teatro Diogo Bernardes para a temporada de estreia, O Fascismo [Aqui] Nunca Existiu! sobe à cena nesta sala, em Ponte de Lima, sexta-feira, dia 24 de Novembro.

Da pequena história… Uma família numerosa, avôs, pais, tios, irmãos e a visita regular de familiares que vinham da terra à grande cidade. Uma casa portuguesa, pobre mas honrada, num país que a Igreja Católica velava e a ensinava a ser pobre e agradecido aos que nos governavam por desígnio divino.

A sua bênção meu pai, dizia o menino, beijando as costa da mão direita do seu progenitor. Deus te abençoe meu filho, era a resposta acompanhada de um toque de mão, também direita, na sua cabeça.

Eram os anos sessenta.

Sabe minha senhora, falava a mãe, o meu filho mais velho, é muito esperto e inteligente, podia falar dele ao senhor doutor. Sabe, com doze anos fez a comunhão solene e o crisma e passou nos exames de admissão para o ensino técnico e também para o liceu. Precisava tanto de lhe arranjar um emprego.

Foi para o Curso Comercial, o liceu era apenas para os filhos da patroa, no segundo ano lectivo, com 14 anos, passou para o curso nocturno, o senhor doutor tinha-lhe arranjado um emprego. Agradece ao senhor, dizia-me sempre a minha mãe. Eu agradecia corado, envergonhado.

Os primeiros tremores e amores, o pecado e o medo moravam sempre ao lado.

Só pecava depois de se confessar e comungar, esforçava-se o menino.

A reza diária do terço em casa e a visita da sagrada família. O senhor Padre Luís que apagava a televisão para que os rapazes não pecassem a ver as raparigas de fato de banho (os biquínis ainda não tinham aparecido) ou os beijos que os filmes mostravam.

Os primeiros teatros na catequese de peças só com meninos. As revistas aos quadradinhos que seu pai lhe comprava. O cavaleiro andante, o mundo de aventuras, o condor popular, ansiosamente lidos e partilhados…

Depois os livros maiores que começaram com Verne e Salgari, as sessões duplas no Carlos Alberto no Central-Cine ou no Cine-Foz com idas a pé ao domingo do Palácio à foz do Douro, sempre com medo de não entrar porque o filme nunca era para a sua idade. A descoberta do TEP-Teatro Experimental do Porto…

Da grande história.

As eleições com Delgado, o movimento sindical e as lutas da oposição, a tropa e a ida para a guerra colonial. A pide e tudo…

A história do país, do mundo.

Texto, Dramaturgia e Encenação: José Leitão
Assistente de Encenação: Daniela Pêgo
Interpretação: Flávio Hamilton, Inês Marques, Luís Duarte Moreira, Patrícia Garcez e Susana Paiva
Direção Técnica, Desenho de Luz e Vídeo: André Rabaça
Direção de Movimento: Daniela Cruz e Constanza Givone
Figurinos: Luísa Pinto
Espaço Cénico: José Leitão e José Lopes
Direção Musical e Sonoplastia: Pedro ´Peixe` Cardoso
Fotografia: Paulo Pimenta
Produção: Sofia Leal e Daniela Pêgo