As artes em roteiro pelo Centro Cultural Vila Flor para celebrar 13º aniversário

Em setembro, assinalam-se os 13 anos de vida do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e a reabertura das portas ao público e à arte. A arte em estado original, diverso, contemplativo e inclusivo. O pontapé de saída para a nova temporada será dado nos jardins com o ritual cultural e social que, nos últimos anos, tem preenchido o primeiro fim de semana do mês: o Manta. E tudo começará nos dedos mágicos de Joana Gama, pianista e compositora – com participação dupla nesta edição ao inaugurar uma nova área do festival para um público mais jovem – que criará a atmosfera perfeita para a entrada dos Mão Morta, lendária banda nacional que aceitou o desafio de preparar um concerto especial onde haverá lugar para a antestreia de novas composições. Na segunda noite, o Manta será lugar de forte manifestação da criatividade feminina, com a artista brasileira LaBaq a anteceder a entrada em palco de Scout Niblett, artista inglesa radicada nos Estados Unidos que visita Guimarães com um concerto exclusivo. O fim de semana que avizinha a data de abertura do CCVF – 17 de setembro – dirige os holofotes às artes performativas. “A meio da noite” chegará ao Grande Auditório pela mão de Olga Roriz no dia 15, em clara homenagem da coreógrafa a Ingmar Bergman, no ano de celebração dos 100 anos do realizador sueco.

 

A 16 e 17 de setembro, o CCVF será investigado e desvendado pelo Teatro Oficina, em parceria com o serviço de Educação e Mediação Cultural, que levará o público a descobrir diferentes espaços “Do avesso”, percorrendo labirínticos corredores, recônditas oficinas e outras passagens (quase) secretas que abrigam memórias e preservam saberes das pessoas que aqui trabalham. A 22 de setembro, a música faz-se ouvir novamente no CCVF com a estreia nacional do espetáculo “Meet Cecil Satariano” apresentado pelo coletivo português MODS Collective. O teatro ganha especial protagonismo no final do mês com o díptico de peças “Moçambique” e “Amazónia”, da Mala Voadora, a subirem ao palco do Grande Auditório a 27 e 29 de setembro, respetivamente.

A celebração começa, com entrada livre, num palco de relvado inteiro com horizonte entre o Castelo de Guimarães e o Centro Cultural Vila Flor, um mundo constituído por arte, natureza, arquitetura e interação comunitária – o Manta – que invade mais uma vez os jardins do CCVF no primeiro fim de semana de setembro (dias 7 e 8, às 21h30) para a sua 12ª edição.

 

Na primeira noite, a icónica banda Mão Morta traz ao Manta a sua faceta mais imersiva, onde subtis crescendos e repentinas explosões se sucedem numa massa sonora mais ou menos suave e repetitiva que nos embala pelas histórias negras e inquietantes que nos vão contando. Temas retirados um pouco de toda a sua discografia, mas também alguns módulos que irão integrar o seu próximo espetáculo e o seu próximo disco, e que farão no Manta a sua antestreia. Antes dos Mão Morta tomarem conta do palco, a pianista Joana Gama presenteia o público com um novo recital que intercala a obra multifacetada de Erik Satie com a de compositores que o seguiram na exploração do som – Marco Franco, Federico Mompou, Morton Feldman, John Cage e Vítor Rua – num delicado jogo de afinidades.

No segundo dia, às 18h00, é inaugurada uma nova área do festival dedicada ao público mais jovem com um concerto comentado para crianças de Joana Gama envolto no universo do Erik Satie. Chegada a noite (21h30), o Manta será lugar de forte manifestação da criatividade feminina, a começar com a prestação da artista brasileira LaBaq (na foto), que através de engenho tecnológico e beleza de composição apresentará o seu sedutor universo de canções internacionalmente aclamadas. Depois o céu ficará mais estrelado e entrará em palco Scout Niblett, que visita o Manta para um concerto exclusivo, trazendo-nos à pele e ao espírito a experiência grandiosa do seu olhar criador.

A 15 de setembro, a programação passa para o interior do CCVF com Olga Roriz a apresentar “A meio da noite”, uma homenagem da coreógrafa a Ingmar Bergman, no ano das celebrações do centenário do nascimento do realizador sueco. Poucos realizadores conseguiram, como este, encontrar profundidade no interior do ser humano. Os seus sonhos cheios de pesadelos foram a base inspiradora de muitos dos seus filmes. A impossibilidade de comunicação, a religião e a morte são as temáticas mais obsessivas de Bergman. No entanto, o mais importante na vida do realizador é a comunicação que conseguimos com outros seres humanos: sem isso estaríamos mortos. É nessa visão do realizador que Olga Roriz se inspira, nesses homens e mulheres assustadoramente reais, na solidão em luta constante com o interior. No final do espetáculo, a coreógrafa junta-se ao público para um momento de conversa e partilha aberto a todos os presentes.

Nos dias 16 e 17 de setembro, o Teatro Oficina, em colaboração com o serviço de Educação e Mediação Cultural, abre as portas do CCVF para levar o público a descobrir “Do avesso” os lugares secretos deste espaço. Nesta visita performativa, vai-se investigar o que se esconde atrás do que está por trás – o que não se vê, o que não está em cena. Descobriremos onde nos levam os labirínticos corredores, as recônditas oficinas e outras passagens (quase) secretas que abrigam memórias e preservam saberes das pessoas que trabalham neste espaço, cuja magia começa fora do palco, na vida de todos os dias, no delicado labor de quem, com desvelo, prepara momentos tão efémeros quanto singulares. No domingo (16 de setembro), a estreia está marcada para as 17h00. Na segunda-feira (17 de setembro), haverá duas sessões, a primeira às 10h30 e a segunda às 15h00

A música volta a fazer-se ouvir a 22 de setembro, com a estreia nacional de MODS Collective Meet Cecil Satariano que chega a Guimarães depois da apresentação no âmbito do programa de Valletta 2018 – Capital Europeia da Cultura. Cecil Satariano foi um verdadeiro pioneiro do cinema em Malta, premiado internacionalmente, embora a partir dos anos 1980 tenha começado a cair no esquecimento. Este ano, por ocasião de Valletta 2018, o coletivo português MODS Collective resgatou os seus dois primeiros filmes que foram pela primeira vez digitalizados, voltando a ser exibidos publicamente. As duas curtas-metragens inspiraram uma residência artística no Centro Nacional de Cultura de Malta, onde se reuniram quatro músicos portugueses e um grupo de mais de 30 músicos malteses, incluindo um coro de que faz parte a filha do realizador. Juntos, construíram uma nova banda sonora para as duas curtas-metragens, explorando a linguagem de música improvisada que carateriza MODS Collective.

Na última semana do mês, a celebração alarga-se intensamente ao teatro com a companhia Mala Voadora a viajar até ao Grande Auditório do CCVF para apresentar o díptico de peças “Moçambique” e “Amazónia”. Com Jorge Andrade ao leme, a viagem começa com “Moçambique” a 27 de setembro. Jorge Andrade nasceu em Moçambique e veio para Portugal com 4 anos, mas em “Moçambique” (o espetáculo) constrói uma biografia como se tivesse lá ficado. Para tornar credível esta história de vida, ela é imposta à História do país. Jorge Andrade faz agora parte da História de Moçambique e, através dela, das suas vicissitudes políticas, da sua situação no contexto da Guerra Fria, das tramitações da economia internacional a que o país recém-independente foi sujeito.

Para encerrar esta celebração de mês inteiro, seguimos para a “Amazónia” no dia 29. Nesta que é a sequela de “Moçambique”, o mesmo grupo de personagens resolve ir para outro paraíso – a selva amazónica – para gravar uma telenovela ecológica. Os artistas procuram financiamento e as personagens da novela também, porque também elas querem empreender: querem civilizar a Amazónia, seguir o caminho universal da civilização. Como não faria sentido tratar um tema ecológico sem ser ecológico, a concretização deste espetáculo assenta na poupança de matéria-prima: o cenário é emprestado, o desenho de luz é reciclado, as músicas são de outros espetáculos da mala voadora, e as cenas são copiadas de espetáculos de outras pessoas. No fim do espetáculo, a Mala Voadora aterra junto do público para um momento de debate e partilha, numa conversa informal.

 

Entre os dias 24 e 26 de setembro, aproveitando a presença da Mala Voadora em Guimarães, o CCVF dá, ainda, a oportunidade de conhecer de perto os processos de trabalho e criação dos seus diretores, o ator e encenador Jorge Andrade e o cenógrafo José Capela, através de uma oficina dirigida a criadores e encenadores.

photos: Rafa Mendes / Sérgio Claro

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