A romaria dos Miss Universo continua ao tom da “Canção da Rua”

A canção saiu à rua em primavera abrilista e deu de caras com a incerteza. Os anos passaram às dezenas e a promessa que os tempos de mudança haviam prenunciado parece, afinal, não se ter chegado a cumprir. Português em conflito de identidade num país que não (o) reconhece. Assim surge a “Canção da Rua”, produto de quem finca pé em “Ser Português”, matéria de que são feitos os Miss Universo.

No seguimento do single inaugural “Ser Português”, a dupla formada por Afonso Branco e André Ivo volta a fazer das suas, que por enquanto ainda são poucas, mas que dentro em breve se esperam mais. Apresentações feitas no tema de estreia, inocentemente ambicioso na forma e, sobretudo, no conteúdo, a segunda impressão não só confirma a primeira, mas projecta essa ambição para uma dimensão bem mais tangível no devido contexto.

Novamente escrita e composta a quatro mãos — desde a letra ao instrumental, passando pela realização audiovisual —, “Canção da Rua” configura o segundo single de um primeiro álbum a ser editado pelo duo Miss Universo ainda este ano.

E é canção de Abril num ano em que Abril tem especial simbolismo, munida de argumentos de peso que não se ficam pela carga simbólica dessas celebrações de contornos muito particulares. O espírito continua libertino, não fossem, sob o manto de Miss Universo, Afonso Branco e André Ivo em causa inequivocamente própria. E “Canção da Rua” permite-se a reflectir precisamente sobre a emancipação dessa liberdade, com mais dúvidas que respostas, num tempo em que nada do que se garantiu se dá, agora, por certo. Dar uma no cravo e outra na ferradura, que a liberdade não são só flores, mas Abril também tem os seus espinhos.

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