A oportunidade do jazz na incerteza do presente em Guimarães

A partir do próximo dia 12 de novembro, descolamos à boleia daquele que é um dos mais reconhecidos acontecimentos musicais de Portugal, o Guimarães Jazz, que se apronta para consumar a sua 29ª edição entre 12 e 21 novembro, vivendo ao longo destes dias no CCVF, onde se apresenta em nove concertos com mais de 100 músicos portugueses e alguns estrangeiros a residir em Portugal, aos quais de junta a holandesa Radiohead Jazz Symphony que atuará com a Orquestra de Guimarães, num elenco que agrega nomes como Andy Sheppard, Peter Evans, César Cardoso, Julian Argüelles, Pedro Melo Alves, Sonoscopia, Porta-Jazz, Big Band da ESMAE, entre muitos outros.

 

Este é “um festival para tempos incertos“, nas palavras do seu programador, Ivo Martins, e a linha de força mais importante do Guimarães Jazz é a aceitação dos desafios do tempo, inventando soluções que lhe permitam alargar horizontes, e que essa será, no contexto altamente insólito em que atualmente vivemos, a melhor forma de honrar o património de resistência e de luta pela liberdade inscrito na memória genética do jazz. Olhando para 2020 como uma oportunidade de descoberta, esta edição marca diferentes abordagens jazzísticas no festival, como é habitual, podendo ser explorada em pormenor em guimaraesjazz.pt, onde se encontram disponíveis as assinaturas para aceder a todos os concertos.

 

Os concertos da 29ª edição do Guimarães Jazz realizam-se com horários de apresentação antecipados, de forma a permitir que o público possa cumprir o seu dever cívico de recolhimento. Neste sentido, os concertos programados para os fins de semana terão início às 19h00 e nos dias úteis o começo acontece às 19h30. A única exceção acontece no dia 15 de novembro, domingo, com o concerto do Projeto Big Band da ESMAE / Guimarães Jazz a iniciar-se às 16h00.

 

O programa é centrado sobretudo em projetos que envolvem músicos portugueses e músicos estrangeiros a residir em Portugal (a única exceção será a Radiohead Jazz Symphony, um conjunto de seis músicos holandeses dirigidos por Reinout Douma e que atuará em conjunto com a Orquestra de Guimarães), um formato que permite um olhar mais alargado do que o habitual sobre o panorama musical nacional e que é, ao mesmo tempo, uma forma de catalisar novas colaborações e suscitar diferentes aproximações artísticas.

 

A abrir o festival, três músicos de gerações, geografias e estilos diferentes, mas que partilham uma relação de proximidade e afinidade com Portugal. O saxofonista Andy Sheppard, um músico e compositor com uma longa e notável carreira no jazz europeu, apresentar-se-á no próximo dia 12 pelas 19h30 com o quarteto “Costa Oeste”, um grupo improvável constituído pelo contrabaixista e compositor Hugo Carvalhais, pelo já veterano e prestigiado guitarrista Mário Delgado e Mário Costa, um baterista proeminente da nova geração do jazz português.

No segundo dia, 13 de novembro, à mesma hora, o Guimarães Jazz recebe pela primeira vez o mediático Peter Evans (na foto), um trompetista de grande virtuosismo técnico e com uma atividade musical de largo espetro, comprovado pelo formato de concerto-duplo com que se apresentará: num primeiro momento com o baterista da cena pós-free jazz contemporânea Gabriel Ferrandini, e em seguida numa formação insólita de trompete/acordeão/contrabaixo ao lado de dois músicos com provas dadas de grande competência: João Barradas e Demian Cabaud.

Julian Argüelles é um cúmplice de longa data do festival, que acompanhou de perto a sua afirmação no circuito jazzístico do mais alto nível e atuará em septeto, um ensemble de bons músicos portugueses que interpretará as composições de Argüelles naquela que será a estreia absoluta deste ensemble. Para assistir no dia 20, também às 19h30.

 

Além destas três formações, que refletem o eixo colaborativo do programa desta edição do festival, apresentar-se-ão em nome próprio dois músicos que nos últimos anos têm vindo a consolidar o seu percurso em campos quase diametralmente opostos do jazz. César Cardoso é um compositor e arranjador com uma carreira profícua e diversificada sobretudo no jazz orquestral e apresentará a 14 de novembro (19h00) em Guimarães o projeto “Dice of Tenors”, dedicado a standards celebrizados por grandes saxofonistas tenor da história desta música.

Por seu turno, Pedro Melo Alves, cujo concerto encerra esta edição do festival no dia 21 às 19h00, é um baterista e compositor que se move preferencialmente pelos territórios mais tangenciais do jazz, incorporando elementos do rock e do experimentalismo na sua música, e apresentará, por proposta do Guimarães Jazz, uma versão alargada do seu Omniae Ensemble, originalmente um septeto reconfigurado numa big band de vinte e três músicos e uma instrumentação invulgar que inclui uma secção de vozes e percussões eletrónicas dirigida pelo percussionista Pedro Carneiro.

 

O restante programa fica completo com as parcerias do festival com associações/coletivos a operarem na música e que transitam dos anos recentes. A Orquestra de Guimarães atuará a 19 de novembro às 19h30 sob direção do arranjador e fundador da Nordpool Orchestra, como já foi referido, interpretando o reportório da influente banda de pop-rock Radiohead. A Porta-Jazz propõe no dia 15 às 19h00 o espetáculo “Sombras da Imperfeição”, um quarteto improvável de piano/guitarra portuguesa/clarinete/bateria liderado pelo pianista Hugo Raro e com cenografia e desenho em tempo real de JAS, e, por último, a Sonoscopia apresentará a 18 de novembro às 19h30 um projeto colaborativo de eletrónica/percussão/vídeo entre a dupla @c (Miguel Carvalhais e Pedro Tudela), o baterista Gustavo Costa e o designer Rodrigo Carvalho. Uma última nota para a participação da Big Band da ESMAE que, neste ano, ao contrário do habitual, é dirigida pelos professores da própria instituição, apresentando em palco às 16h00 do dia 15.

 

Apesar das limitações impostas, o Guimarães Jazz mantém-se fiel à sua identidade, sustentada no ecletismo e numa grande abertura estilística e geracional, pelo que em 2020, tal como em todos os anos do seu já longo percurso, o festival apresenta ao seu público um grupo alargado de músicos de grande qualidade e que,

 

Os concertos têm todos lugar no Grande e Pequeno auditórios do Centro Cultural Vila Flor, à exceção do projeto Porta-Jazz / Guimarães Jazz que decorre na Black Box do Centro Internacional das Artes José de Guimarães.

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