A Boda… de Bertolt Brecht no CCB

A Boda é uma das primeiras peças de Brecht, de uma altura em que o marxismo ainda não irrompera nas suas obras e onde a dimensão política e didática, com a qual estamos habituados a identificar o dramaturgo, não é tão evidente. Contudo, desde o início se nota da parte do escritor o esforço de fugir ao paradigma do teatro do seu tempo. Encenando o jogo social, com uma linguagem corrente e contornando-o com uma comicidade cruel, Brecht está, já nas suas primeiras obras, a utilizar a principal ferramenta da filosofia marxista – a crítica. A burguesia do seu tempo aparecia-lhe já como um mundo subjugado a preconceitos e ideologias que favoreciam o seu individualismo, reduzindo-a a um conforto vazio e incapaz. Onde todos procuravam apenas agradar ao seu próprio umbigo, mesmo que para isso entrassem numa dança social que os obrigava a seguir convenções que se apresentavam como tradicionais e intemporais.

 

A Boda não nos conta uma história, apenas espreita para dentro de uma situação que todos consideraríamos normal. Nesse olhar quase indiscreto temos espaço para perceber que o habitual é uma ilusão na qual queremos pensar que tudo se passa «como deve ser» mas que, quando nos distanciamos, não passa de uma manta de retalhos complicados e cheios de buracos.

 

N’A Boda tudo está preparado como deve ser: noivos e convidados vestiram os seus fatos de festa, os anfitriões preparam um banquete digno desse nome, o amigo preparou o seu discurso. Os convidados tentam ser amigáveis e sociáveis. Todos tentam criar um ambiente de festa sem o qual uma boda não ficará completa: ri-se, canta-se, dança-se, bebe-se. Mas estes esforços e estes preparativos não chegam para que a boda tenha sucesso. Brecht observa o modo como os homens se comportam uns com os outros e como, mutuamente, se incomodam. Não há, na verdade, muito que faça rir. E, contudo, rimos, rimos muito, como se a ideia de Brecht fosse rir e fazer rir do séri

 

Esta é a segunda aposta de um ‘novo’ grupo em formação, com tradução de Jorge Silva Melo e Vera San Payo de Lemos e encenação Ricardo Aibéo
De 23 a 28 de Março no pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém

 

photo: Bruno Simão

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