Victor Hugo Pontes está de regresso ao CCVF para apresentar a sua última criação

Criado em 2020, no auge da pandemia, “Os Três Irmãos” nasceu da vontade de Victor Hugo Pontes de trabalhar com um elenco pequeno, depois de sucessivas criações com elencos de mais de dez intérpretes, e de fazer um espetáculo a partir de um texto de Gonçalo M. Tavares, autor em cujo universo sempre teve vontade de mergulhar.

 

Victor Hugo Pontes não trabalha com palavras, mas sim com movimentos. Mas utiliza muitas vezes as palavras como ponto de partida, como meio e até como fim. Acaba quase sempre por retirá-las da boca dos intérpretes, ou por calar os autores. Desta vez, não foi assim: as palavras de Gonçalo M. Tavares estão presentes em “Os Três Irmãos”. São o motor da ação e surgem no espetáculo para serem lidas, e não ditas. A força da sua presença é por isso diferente – são palavras que não se ouvem, mas que conduzem o espetador.

 

Para este espetáculo, Gonçalo M. Tavares foi desafiado a escrever – a pedido de Victor Hugo Pontes – sobre «assuntos de família» para os intérpretes Dinis Duarte, Paulo Mota e Valter Fernandes. Depressa concluíram que seria uma família de três irmãos e que a ação seria sobre o tempo presente, marcado pela ausência. A ausência de pessoas que entretanto morreram e de quem não pudemos despedir-nos. Não era de todo a vontade de Victor Hugo Pontes retratar a realidade que se viveu em plena pandemia e talvez por isso o coreógrafo tenha preferido ficar de algum modo no passado, quando o contacto e o toque ainda nos era possível. É também desse passado que nos fala este espetáculo, porque a família é o que temos de mais seguro e de mais frágil.

 

Abelard, Adler e Hadrian são “Os Três Irmãos”: quando se encontram naquele não-lugar, procuram o rasto dos seus pais, marcam a giz a sua ausência, lavam-se, comem juntos à mesa, carregam os corpos uns dos outros em sacrifício ritualizado, carregam-se aos ombros, vivem em fuga, praticam o jogo perigoso do encontro com o passado. Abelard, Adler e Hadrian tentam fazer a sua ligação à terra e sobreviver à existência uns dos outros, mesmo se esta tiver sido esburacada a berbequim, enrodilhada numa trouxa de roupa, transportada num carrinho de mão.

 

A apresentação desta peça em Guimarães – cidade natal do coreógrafo – não podia ser mais obrigatória e Victor Hugo Pontes regressa assim ao Centro Cultural Vila Flor no próximo dia 19 de Março.

 

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