Tremor 2019… Mais dez nomes para ver nos Açores

São 10 os novos nomes que hoje se juntam ao cartaz do festival açoriano: da contemporaneidade transgressora brasileira da música-festa dos Teto Preto e da pop confessional de Maria Beraldo à polirritmia catalã dos ZA!, passando pelos cruzamentos de metal e tropicália dos Chupame El Dedo e as novidades Free Love Vive la Void. Há ainda mais quatro nomes para anotar nas criações especiais, com a dupla apresentação do compositor Lieven Martens (ex-Dolphins Into The Future), o trabalho de Rafael Carvalho FliP em torno da viola da terra e a proposta de Natalie Sharp para o Tremor Todo-o-Terreno.

Música menos comportada”, é assim que os Teto Preto, banda nascida no seio da festa Mamba Negra, que reinventou a cena electrónica de São Paulo, baptizam aquilo que fazem. Em “Pedra Pedra”, segundo tomo no universo inclusivo, feminista e hedonista de um colectivo que, antes de ser banda, era comunidade, voltam a experimentar em torno das influências assumidas na música disco brasileira dos anos 70, no jazz, techno e house e em tudo mais que faz vibrar o corpo. Adicionam-lhe a dose certa de dança contemporânea, performance e as letras declaradamente provocatórias para, com tudo isso, segurarem um lugar na luta pela sobrevivência da cultura electrónica de vanguarda no Brasil.

É neste mesmo Brasil, que tem na música foco incontornável de resistência social e política, que nomes como Maria Beraldo travam, ao lado de outros como Aíla, Márcia Castro ou Linn da Quebrada, guerras abertas contra o conservadorismo. Clarinetista e claronista da banda de Arrigo Barnabé e membro das históricas Quartabê e Bolerinho, Maria fez-se, em Cavala, compositora a solo. O disco, declaradamente radiográfico, lista as dores e as delícias da cantautora, num conjunto de canções de afirmação lésbica que actualizam o repertório brasileiro e voltam a trazer para o olhar atento dos media a necessidade de repensar a heteronormatividade dos corpos e da sexualidade.

Já tinha sido anunciado como um dos colectivos em residência nos Açores, faltava agora avisar que, já que lá andam, vão tocar em nome próprio. Duo criativo composto por Papadupau e Spazzfrica Ehd, os ZA! têm mais de dez anos na mistura de géneros e no encontro com outros artistas, contam mais de meio milhar de concertos ao vivo em cinco continentes e seis discos que nos explicam, detalhadamente, as múltiplas possibilidades da polirritmia. O mais recente, “Pachinko Plex”, fá-lo sem se tornar excessivamente analítico, resumindo influências globais e tendo a técnica como norte no caos que só eles sabem construir.

foram conhecidos como Happy Meals, nome que era uma espécie de sátira ao consumismo que os rodeava, mas será talvez sob o nome Free Love que Suzanne Roden e Lewis Cook melhor conseguem agasalhar a sua identidade utópica. Depois de terem cruzado a Europa, a abrir para nomes como Liars ou Flaming Lips, passam pelos Açores para provar por que a fama lhes atribui o título de uma das mais sensuais e interessantes novas bandas de 2018.

Chupame El Dedo são Eblis Álvarez (Meridian Brothers) e Pedro Ojeda (Romperayo, Los Pirañas, Ondatrópica) juntos pelo desafio de Detlef Diederichsen (director do festival berlinense Evil Music). A encomenda era simples: criar uma banda de death metal com influências na música tropical. Daqui será fácil imaginar o que vamos encontrar dentro do disco homónimo de estreia: todos os chavões do grindcore, speed e black metal a casar (ou colidir) com a salsa, rumba, currulao e reggaeton. Loucura tropical e deslocamento artístico prometidos, podem pedir já um mojito para acompanhar o headbangingnos Açores.

Será uma das descobertas mais interessantes do cartaz deste ano. Lieven Martens (ex-Dolphins Into The Future) passou várias temporadas nos Açores mas nunca lá tocou. Ao longo dos anos, fez imensas recolhas sonoras no terreno, com as quais viria a editar discos como Canto Arquipélago, um poema sonoro sobre a diversidade açoriana. A convite do Tremor, Lieven regressa aos Açores para uma residência artística de recriação da obra The Cow Herder, uma sonata que faz o retrato sonoro da vida de um guardador de vacas da Ilha do Corvo. A apresentação será dupla, em sala, e num ponto exterior da ilha a revelar, como é hábito, durante o decorrer do festival, e serão complementadas por vídeos e textos da sua autoria.

Por Ponta Delgada, passarão ainda o krautrock de Vive la Void, projecto de Sanae Yamada a teclista dos Moon Duo, a nova proposta de encontro entre Rafael Carvalho FLiP na redescoberta de novos espaços para a viola da terra (instrumento típico do arquipélago) e a encomenda site-specific da compositora, cantora e performer Natalie Sharp para o Tremor Todo-o-Terreno, espaço do festival onde a música é ligada a trilhos pela natureza dos Açores.

Os novos nomes juntam-se aos já anunciados concertos de Bulimundo, Colin Stetson, Moon Duo, Jacco Gardner, Pop Dell’Arte, Grails, Lula Pena, Haley Heynderickx, Lafawndah, Cave, CZN, The Sunflowers, Trans Van Santos; e às residências artísticas e colaborações de Ondamarela + Escola de Música de Rabo de Peixe + ASISM; ZA! + Despensas de Rabo de Peixe + Rubén Monfort; Diogo Lima + LBC; dB + Balada Brassado; Pedro Lucas + WE SEA; e Cristóvão Ferreira + Tupperwear.

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