Scott Matthew abre com chave de Ouro digressão Nacional

Scott Matthew já não é um novo nome para o público Português. As suas passagens por Portugal não são de agora e já vêm antes de ter gravado um disco com Rodrigo Leão, mas isso é outra história. Confesso que as expectativas eram grandes depois do concerto que assisti na edição de 2017 do NOS Primavera Sound onde Scott subiu ao palco em duo para apresentar as canções de “Life is Long”.
Em noite de feitiços, a Casa da Música recebeu o primeiro de 4 concertos em Portugal do Australiano convertido a Nova Iorque… e a Portugal como salientou por diversas vezes.
Ode to Others”, editado no inicio da primavera era o disco que Scott se propunha a apresentar perante uma audiência tímida mas conhecedora e atenta da obra do cantautor. Visivelmente bem disposto, Scott traz a palco canções de raiva e canções de amor, mas sobretudo de sentimentos. Longe das paixões fatais de outros tempos, e de outros discos, “Ode to Others” é um conjunto de dedicatórias com destinatários tão diversos como por exemplo o seu melhor amigo e companheiro que encontrou finalmente o amor, ou uma declaração de amor a Portugal personificada em Santarém, “Ode to Santarém”, onde Scott se recolheu nalgumas das suas visitas a Portugal.
Não esqueceu a sua homenagem à sua segunda cidade, Nova Iorque, questionando-se em palco porque é que vive à 21 anos na cidade americana, isto na introdução do tema “The Sidewalks of New York”.


“Ode to Others” é uma celebração que recupera algumas canções de terceiros, que, apesar de não gostar de algumas, deixam uma mensagem muito forte de esperança, raiva e perspectivas de futuro, em contra ciclo com a canção dos Culture Club “Do you really want to hurt me” que é também símbolo de toda uma geração que cresceu na década de 80. Confessa que o próprio Boy George dois dias depois de apresentar o vídeo o elogiou num twitt.

“É o primeiro álbum que escrevo que não se prende com o amor romântico. Apesar de haver um certo ar de romance no disco, não está ligado de forma alguma ao meu amor romântico pessoal. É acerca de pessoas e de lugares que não se relacionam com a minha dor romântica mais imediata”, como tem oportunidade de referir ao longo do concerto.


Deixa duas dedicações especiais, primeiro a seu pai com “Where I Come From” e depois mais tocante, a canção que dedica (ode) ao seu tio originário do Sri-Lanka “Cease and Desist”, que lutou muito contra a discriminação gay na Austrália,

Por falar em Austrália, tempo ainda para relembrar as suas origens Australianos (“from the bush” com referiu) com a canção “Flame Trees”, tema original da banda australiana Cold Chisel.
Em jeito de homenagens e declarações não esquece as vítimas do massacre de Orlando, em 2016 (mais uma como acentuou), membros da comunidade LGBT que foram abatidos a tiro num clube e que inspiraram as comoventes palavras de “The Wish” ou a ideia de que perante uma realidade como a que foi imposta por Donald Trump só a resistência importa, como a que ele canta em “The End of Days”.

Ao longo de 90 minutos, Scott cantor, falou, abriu-se com o público de uma forma ligeira mas profunda, revelando alguns dos factos mais importantes da sua vida nos últimos anos. Ironizou com ele próprio da forma como costuma construir as músicas que apresenta. Uma noite de feitiços emocionais e dedicatórias especiais, foi assim o inicio da edição de 2018 do Misty Fest.

Texto: Sandra Pinho
Fotografias: Paulo Homem de Melo

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