Foi no final do mês de setembro que Salvador Sobral lançou “TIMBRE”, o seu quarto álbum de estúdio, mas como diz o músico, não é o último (pois espera vir a gravar mais), mas sim o mais recente.
A promoção do disco levou-o à Casa da Música na noite da passada quarta feira, 15 de novembro, um espaço que, citando Salvador Sobral, “adora, ao invés do coliseu, apesar de cobrarem 20% de comissão nas vendas de merchandising”.
Ao longo de duas horas o público foi brindado por uma paleta colorida de timbres que disparam claridade, e mais algumas palavras do próprio a juntarem-se ao espetáculo.
É difícil escrever por palavras próprias o que se passou em palco, pois Salvador Sobral consegue interagir de uma forma que, e mais uma vez citando o próprio, parece um espetáculo de stand up comedy, questionado se fizesse um o público pagaria para assistir?
Mas voltando ao concerto, Salvador percorreu de forma desorganizada as canções de “TIMBRE” mas não só, e sim desorganizada pois o espaço musical de Salvador é uma desorganização, sem um estilo ou ritmo especifico ou um alinhamento organizado. Desde a sua entrada pelo fundo da sala, às constantes incursões junto do público, e até abraçados por uma sinfonia de pássaros, recorrendo ao cancioneiro brasileiro, e como abraçamos as sonoridades da América Latina e da Catalunha. O castelhano acaba por ser a língua dominante durante o concerto, fruto igualmente de se acompanhar em palco por dois músicos da Catalunha.
Milhanas foi a convidada mais que especial da noite, duas canções apresentadas com alma de um fado distante, mas timbrado como só Milhanas consegue, apesar de o fado não entrar nos gostos de Salvador Sobral.
AO longo do concerto falou-se de traição, de politica, de dinheiro, assuntos e temas que se iam soltando entre canções.
Para Salvador Sobral existem duas, ou até três fases da sua carreira, a pós Eurovisão, a pós Coração e a atual. Por falar em Eurovisão, “Amar pelos Dois” ainda continua a pairar sobre a aurea de Sobral. A canção que toda a gente sabe a letra de cor, era obviamente esperada por um público transversal. Salvador conseguiu de uma forma subtil incluir o tema entre duas canções ao piano, mas euforia prevista conteve-se e a sala escutou atenta e murmurando a letra do tema de Luisa Sobral.
No final e numa das suas imensas “bocas”, questionou algum público que se preparava para sair… pois já ouviram a que queriam.
Salvador Sobral prova mais uma vez que é um distinto escritor de canções, entre o jazz e a pop e mais uns quantos géneros harmoniosa e criativamente conjugados, mas desorganizados.
Já no encore, o humor fino e certeiro de Salvador Sobral invadia o palco da casa da música ao som de “pedra quente” um hino à folia e ao ócio.
🖋 Sandra Pinho
📸 Paulo Homem de Melo