Re:Imaginar Monte Cara não é apenas um olhar para o passado da grande música de cabo Verde…

Abriu em Lisboa, na Rua do Sol ao Rato, em 1976, aquele que foi o primeiro clube lisboeta focado na cultura africana: gerido por Adriano Gonçalves, que a história recorda como Bana, o Monte Cara foi um verdadeiro laboratório da modernidade musical de Cabo Verde acolhendo no seu palco artistas como Paulino Vieira, Armando Tito, Celina Pereira ou Cesária Évora, entre tantos, tantos outros.

A importância desse espaço, das amizades que lá nasceram e cresceram, dos músicos que o frequentaram e das diferentes gerações de público que formou ao logo de década e meia não pode ser minimizada e foi por isso que, em homenagem ao incansável Alcides – filho de Bana e ele mesmo agitador da cena africana em Lisboa enquanto programou o não menos mítico B. Leza – um grupo de lendários músicos que ainda guardam na memória a singular vibração desse pequeno grande palco da cultura cabo-verdiana se reuniu em Janeiro de 2022 no estúdio Namouche, em Lisboa, para a gravação de um ep que reimagina para o presente parte do reportório que tantas vezes foi entoado a uma só voz no Monte cara.

Com o veterano Toy Vieira a comandar a sessão – registada ao vivo no estúdio, com todos os músicos a tocarem em simultâneo, como acontecia noite após noite na casa de Bana – verdadeiras lendas da música de Cabo Verde registaram os temas “Dia Já Manche”, “Sol Di Manha” e “Um Sonho Cordode”, três clássicos de Paulino Vieira (o primeiro dos quais gravado originalmente por Dionisio Maio em 1984; o segundo parte do alinhamento do álbum Mi Cria Ser Poeta, também de 84; o último gravado por Bana no álbum Dor Di Nha Dor de 1983), o tema popular “Tunga Tunguinha”, que o próprio Bana gravou com Luís Moraes (e que mereceu versão de Boss AC no seu álbum de estreia) e “Corpim Sap”, de Dionísio Maio (do seu álbum homónimo de 1984).

À disposição de Toy Vieira, que além da produção e direcção musical ainda assegurou piano e sintetizadores, estiveram lendas como o cantor Leonel Almeida (lançou o seu primeiro álbum na editora Discos Monte Cara em 1982), o baixista Manuel Paris (que gravou com José Casimiro, Tito Paris ou Cesária Évora), o guitarrista Zé António (outro veterano com largo currículo que se cruza com as discografias de Celina Pereira ou Zezé Di Na Reinalda e Bana), o baterista Toy Paris (outra lenda que gravou com Bana, Dionísio Maio ou Pedro Martins), o guitarrista Tito Paris (artista que dispensa apresentações, que possui vasta discografia em nome próprio e que também gravou com Frank De Pina, Cesária ou até Vitorino, Sérgio Godinho, Paulo Gonzo e Mariza) e ainda o percussionista Kau Paris. Carla Correia, Luz Maria e Tee Amayo harmonizam nos coros.

A estes nomes juntaram-se ainda figuras como Rui Veloso (que sola em “Sol Di Manha”), Dany Silva (voz em “Sol Di Manha”) ou Dino D’Santiago (que junta a sua voz às demais em “Tunga Tunguinha”), elementos adicionais numa sincera celebração da memória de Bana, do espírito do Monte Cara e da diáspora cabo-verdiana.

Re:Imaginar Monte Cara não é apenas um olhar para o passado da grande música de cabo Verde, mas uma forma de reafirmar no presente a força da cultura de um país que já deixou marca no mundo.

No mesmo dia, 15 de Abril a banda Monte Cara, apresenta o EP ao vivo palco Clube B.Leza

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