“Que direito temos nós à felicidade nesta vida?”. Esta é a pergunta que “guia” Espectros, a próxima produção própria do Teatro Nacional São João (TNSJ), que se estreia já esta quinta feira, 20 de Maio.
Partindo da obra escrita em 1881 pelo dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, o espetáculo inscreve-se agora no repertório da Casa pelas mãos do seu diretor artístico, Nuno Cardoso. A peça, que reflete sobre a herança do passado, tão forte e persistente nos nossos dias, fica em cena até 6 de junho, no Teatro Carlos Alberto (TeCA).
Em palco, “abre-se” a porta para a casa da família Alving. Neste “lugar escuro de onde ninguém sai ou entra”, Helene Alving prepara a inauguração de um orfanato em homenagem ao seu falecido marido, o barão Alving. Mas a criação desta obra social está envolta em escândalo, partindo de uma tentativa de encobrir a verdade sobre a vida do barão, aquela que apenas a viúva conhece. Simultaneamente, neste dia onde se concentra toda a ação do espetáculo, assiste-se ainda ao regresso a casa de Osvald, o filho pródigo, que volta após um longo período no estrangeiro e de uma carreira de artista. Este regresso fica marcado por uma má notícia que tem de contar à sua mãe: uma doença venérea que supostamente herdou do seu pai.
Apesar dos 140 anos que separam a publicação da obra e a apresentação deste espetáculo, muitos dos assuntos abordados pelo dramaturgo norueguês mantêm-se atuais, como a doença, a hereditariedade, a condição da mulher ou a vontade de viver. No espetáculo de Nuno Cardoso, estas questões são exploradas com base na realidade atual, em particular a do encenador. “Leio Ibsen à minha luz, como um português que vive no Porto, em Portugal, na Europa. Essa é a realidade em que me inscrevo. É óbvio que procuro corresponder ao espírito e à essência do Ibsen, mas sempre dentro da quadratura do meu círculo.”, explica Nuno Cardoso.
