O Aleste faz dez anos e faz subir o arraial à cidade

O Aleste chegou aos dez anos e, em ano redondo de celebrações, vai alargar-se pela primeira vez para lá do Funchal. A ter lugar entre os dias 23 e 26 de maio, a edição deste ano vai ter mais dias, mais palcos e mais bandas; vai dar para comer, para andar, para dançar e, lá mais para o final, se assim for preciso “p’ra m’deitar”.

Entre as confirmações, os brasileiros Kiko Dinucci e Bia Ferreira, o regresso dos Capitão Fausto e a estreia dos Glockenwise nos palcos do arraial. Pelos espaços do clubbing, o Aleste propõe DJ LIZZ, Pelada e Pedro da Linha, entre outros.

Dia 23 de maio, o arranque é em modo aquecimento acelerado com proposta dupla nas mesas de mistura. O arranque é dado no Jaca Hostel Funchal com o regresso anual de La Flama, a propor uma espécie de best-off da latinidade, da cumbia, salsa e kizomba. Daí, rumo ao Museu Café, no Funchal, para uma segunda edição do jantar-convívio, desta feita desenvolvido pela A BIQUEIRA, projeto de investigação gastronómica regional. A proposta é um bar aberto de sopa de trigo. Ainda antes da sobremesa, um regresso sempre acarinhado para o produtor e DJ Pedro da Linha, que traz um episódio da sua residência ARREBITA – laboratório mensal que alimenta no Musicbox e onde explora as interseções entre a música de clube e a música tradicional. Para o Funchal está prometida uma releitura de alguns temas emblemáticos do cancioneiro madeirense.

E é num salto que se chega a sexta com a primeira proposta de saída do Funchal. Um passeio à Ponta de São Lourenço que culminará com um concerto surpresa com vista para o mar. Depois de um regresso a cruzar terra e mar (sim, vai haver viagem de barco), o Largo do Socorro espera, já engalanado, para um primeiro momento de arraial. O Adro da igreja servirá de palco para várias atuações em despique do Grupo de Folclore MonteVerde, para o bailinho e o espaço por excelência para provar o bolo do caco e a famosa espetada em espeto de louro. No miradouro, espaço reservado para as atuações de um conjunto de alunos em curadoria da Associação de Jazz Melro Preto e, no -1, os concertos de Mariana Camacho, Sónia Trópicos e Ganso, num espaço que quer ser a ponte entre o popular e a pop. A complementar com detalhes o espaço, a Feira do Socorro, com mais de 15 feirantes com propostas de artesanato, roupa, edição independente, entre outras.

Chegados a sábado, dia maior, voltamos a saltar cedo da cama e a marcar passo num momento de preparação para as atuações que hão-de vir. Um almoço comunitário juntará toda a gente no Adro da Igreja onde voltaremos a encontrar propostas regionais: o coletivo Estrond’ilha e o projeto Satélite de ação musical de inclusão e desenvolvimento pela Associação Melro Preto. Pela tarde, a partir das 15h30, descemos as escadas até à Praia da Barreirinha para uma tarde de concertos que, como sempre, promete percorrer algumas das tendências da música de hoje.

A dar o pontapé de saída, um dos mais influentes nomes da música paulista da última década. Kiko Dinucci iniciou a sua carreira nos movimentos punk e hardcore dos anos 90, ao mesmo tempo que se envolvia com as tradições do samba e do choro. Nesse percurso, onde interagiu com músicos influentes da vanguarda paulista, Dinucci alargou perspectivas e explorou a singularidade da cena musical da cidade. O que se seguiu deixa marca inegável: integra os Passo Torto, quarteto que reescreve as paisagens da MPB, e (ao lado de Thiago França e Juçara Marçal – que o acompanha nesta tour), funda os Metá Metá, uma das mais inovadoras e respeitadas bandas da música brasileira recente. Este trabalho leva-o a colaborações com nomes como Elza Soares, Tom Zé, Criolo, Jards Macalé ou Marcelo D2, e inscreve-o como um dos nomes a ser decorado na música que se faz do lado de lá do Atlântico.

Ainda por terra brasileiras, as palavras-chama de Bia Ferreira. Ou melhor, a sua MMP — Música de Mulher Preta, como a mesma descreve. Bia Ferreira estreia-se no arquipélago com vontade de nos abanar. Consigo traz “Faminta” – o seu mais recente disco onde o amor serve de eixo temático para um olhar sobre o racismo sistémico, a homofobia e o patriarcado.

Mudando o continente, estreia nacional de Mistune, banda de fusão neo-folk japonesa sediada em Berlim, composta por membros do Japão, Austrália, Alemanha e Grécia. Liderada por power trio de tocadoras de shamisen (instrumentos de cordas de origem japonesa), Mitsuné leva o seu amor pela música folclórica japonesa e infunde-a com influências psicadélicas, jazzísticas e cinematográficas.

Segue-se dose dupla de bandas portuguesas com dois grandes discos a mostrar. De Barcelos, os Glockenwise, que regressam à Madeira para apresentar “Gótico Português”, considerado por parte da imprensa da especialidade um dos melhores discos de 2023. De Lisboa, um regresso ao festival para os Capitão Fausto que voltam com “Subida Infinita”, o quinto álbum da banda e que marca uma nova fase no seu percurso, agora como quarteto.

A fechar o alinhamento, propostas com olhos fitos na pista de dança: Pelada, explosivo duo canadiano que funde as batidas electrónicas com hinos de protesto e empoderamento; e DJ LIZZ, princesa do neoperreo e uma das mais (senão a mais) internacionais caras da música chilena, com um percurso de presenças nos mais importantes e mediáticos festivais internacionais e rádios de referência.

A fechar o Aleste 2024, no domingo dia 25 de maio, mais uma saída rumo ao norte da ilha, para uma tarde de descompressão no Jaca Hostel Porto da Cruz. Passeio, mergulhos, brunch e a música de King Kami, rainha da descompressão acelerada, e a rara aparição de DJ Pizza.

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