Em 1977, John Cassavetes levava o teatro para o cinema com o filme Noite de Estreia. Agora, Martim Pedroso volta a devolvê-lo à cena, com “um espetáculo sobre um filme que é sobre um espetáculo”.
No centro da peça sobre a brutal realidade de fazer teatro está a batalha travada por uma atriz-protagonista alcoólica, politicamente incorreta, mas encantadora e inteligente, contra as convenções conservadoras mantidas pelo patriarcado.
A história começa com a morte de Laura (Margarida Bakker), uma jovem fã de Myrtle Gordon (Dalila Carmo), tragédia que coloca a atriz numa espiral de queda, em que começa a questionar-se: sobre si própria como atriz, a personagem que interpreta e o machismo endémico que o texto expressa em relação ao mundo feminino. Farta da sociedade que diz que a atriz tem de representar um papel de mulher que não é o dela – nem o que ela acha ser o de nenhuma mulher dos tempos de hoje –, Myrtle Gordon decide revoltar-se contra esta noção arcaica do feminino, lutando para reinventar o texto de Sarah Goode (Maria José Paschoal) e, consequentemente, dar vida e aproximar a sua personagem, Virgínia, da realidade.
Neste percurso teimoso e solitário, entre copos desesperados de brandy e whisky, em que tenta virar a peça “de pernas para o ar”, a atriz acaba por ser vista por todas as outras personagens que gravitam à sua volta como psicótica. Contudo, o que perde em equilíbrio físico, psicológico e emocional, ganha em empatia com o público – facto que contraria a teoria de Manny (João Reis), o encenador.
Noite de Estreia estará em cena de 12 a 15 de janeiro, no Teatro Carlos Alberto (TeCA).