NANT… há 10 anos a “dar o corpo ao manifesto” no Teatro Viriato

Dar o corpo ao manifesto” é o mote da nova edição do encontro de dança contemporânea NANT do Teatro Viriato, que em 2022 celebra 10 anos de existência. Aproveitando a data festiva, a herança de uma década, mas também os tempos transformadores que vivemos, mantivemos o acrónimo NANT mas rebaptizámos este encontro de New Age, New Time, para Novas Ações, Novos Tempos.

De 14 a 29 de janeiro, dedicamo-nos a pensar o corpo e o movimento na companhia de coreógrafos emergentes e consagrados, mantendo o foco principal que é o de celebrar a dança num encontro próximo entre artistas e públicos.

 

“O corpo feminino e masculino, o corpo não binário, o corpo belo, o corpo que adoece e envelhece, o corpo mútuo, o corpo duplo, o corpo norma e tradição, o corpo que rasga o sistema, o corpo domesticado, o corpo livre, o corpo língua, o corpo planeta, o corpo que dá o litro e se entrega à vida e ao movimento.” Todos eles são convocados a “dar o corpo ao manifesto”, reflectindo assim a multiplicidade dos novos tempos e das novas ações.

 

Para existir é preciso respirar, é preciso ter corpo, é preciso ter movimento, e por isso abrimos 2022 oferecendo os nossos corpos múltiplos aos tempos vindouros, juntando-nos para celebrar o que um corpo pode em palco, o que um corpo pede, o que um corpo pulsa, o que um corpo dá, o que um corpo precisa, o que muitas vezes não é mais do que um outro corpo com quem se amantizar, pensar, trocar ideias, avançar na (sua? nossa?) história”, afirma a diretora artística do Teatro Viriato.

Pensada para todos os públicos, NANT inicia com “Bate Fado” (14 de janeiro), de Jonas & Lander, num diálogo entre a dança e o fado. Com este espetáculo os coreógrafos procuram recuperar e reinterpretar o ato de se bater o fado, uma espécie de sapateado enérgico e virtuoso que o Fado foi perdendo ao longo dos anos. Os coreógrafos trazem a palco um espetáculo grandioso que denota uma investigação aprofundada sobre a relação entre fado e dança a partir de registos e documentos do início do século e ilustrações de Rafael Bordado Pinheiro.

 

A reflexão entre o corpo que envelhece e que continua a criar é abordada no espetáculo “Framework” (15 de janeiro), de Mário Afonso.

Destinado aos mais jovens, famílias e escolas, a NANT propõe “As Estrelas lavam os teus pés” (19 e 20 de janeiro), de Sara Anjo e Madalena Palmeirim. Um espetáculo que propõe uma visão para a infância do universo intrigante e desafiador do pintor Hieronymus Bosch, através do seu quadro “Jardim das Delícias”. Com este ponto de partida, Sara Anjos sugere uma experiência onde a imaginação é o motor para a magia acontecer e onde o ato de brincar faz-nos conhecer o mundo de outra forma.

 

O virtuosismo e o ativismo da artista Piny sobem também ao palco na performance “HIP. A pussy point of view” (19 janeiro), na qual o movimento da anca descreve um conjunto de referências que transformam a carne em matéria de opressão, desejo ou movimento político. Piny convida assim a embarcarmos num percurso por diversas culturas e as suas expressões de corpo, refletindo sobre identidade de género e discriminação.

Vamos ter também a oportunidade de conhecer o processo de (des)ocupação do atelier da Re.AL, de João Fiadeiro, que durante 15 anos ocupou a mesma casa/laboratório artístico no centro de Lisboa, através do documentário “Nada pode ficar” (20 janeiro), de Maria João Guardão apresentado no IPDJ em parceria com o Cine Clube de Viseu.

 

Sofia Dias e Vítor Roriz apresentaram ao longo de dois anos, uma série de performances em espaços não convencionais que investigavam a relação de movimento com a voz, do movimento com o texto dito e cantado.

Com a necessidade de transpor essa pesquisa para o palco de um teatro, surgiu o espetáculo “O que não acontece!” (22 de janeiro). Neste encontro com a dança, há também espaço para uma “comédia de enganos”, nomeadamente “Falsos Amigos” (26 de janeiro), de Miguel Pereira e o coreógrafo catalão Guillem Mont de Palol. Ambos partem do conceito de falsos amigos (palavras com grafia ou pronúncia parecidas, mas que possuem significados por vezes totalmente diferentes) e criam um discurso absurdo, delirante e divertido através das palavras, dos gestos e dos objetos.

 

Termina com uma reflexão coreográfica sobre a nossa condição neste planeta com “O mundo é um susto” (29 janeiro), de Vera Mantero

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