Meu nome é Gal… e não faz mal… Uma noite no Coliseu

Celebrar 50 anos de carreira não é para qualquer um, mas Gal Costa é uma dessas artistas que celebra 50 anos, deitada na sua harmonia musical. São esses 50 anos de carreira que desfilaram na noite de domingo, num concerto intimista, partilhado por um coliseu cheio, onde essa carreira, iniciada aos 12 anos de idade, surgiu em palco acompanhada na guitarra e/ou pelo violão de Guilherme Monteiro.

Gal Costa e Guilherme Monteiro, a dupla nasce de um acaso onde o músico brasileiro, a residir em Nova Iorque, desafia Gal para uma aventura acústica, e como ela própria referiu, deitada na sua harmonia parte na aventura. Despida de adereços em palco, Gal acentua como ninguém as suas canções com a envolvência acompanhada pela guitarra.

 

Nos primeiros minutos do concerto, transmite sentimentos fortes, histórias de vida, de amor, acontecimentos marcantes que fazem 5 décadas de músicas com estilos e análises diferentes.  E são esses momentos marcantes da vivência de Gal, apresentados ao longo da noite, onde os sucessos conquistaram o público algo tímido no início, mas envolvendo-se na retrospectiva apresentada.

Recuou até aos anos 70, início da década, recuperando um original de Bob Dylan que na altura ganhou nova roupagem pela mão de Caetano Veloso. A fase pôs Tropicalia a marcar em definitivo a carreira de Gal, bem como a sua aventura pela década de 70 com referência obrigatória aos “Dancin Days” relembrados pela canção “Tigresa” de 1977.

 

Um throwback até aos anos 60 onde o movimento Tropicália, de contestação, inspirou o tema “Tuareg” de Jorge Ben Jorge, mas que Gal confidenciou que registou como sendo dela em 1969. Numa roupagem inédita, “Tuareg” trouxe as memórias de uma Gal ativista.

A viagem intemporal leva o público até 1983 recuperando o tema “Baby” da banda sonora do filme “1972”. “Quem quiser gritar que grite…” a desgraça o sofrimento que evocam o fado na mensagem transmitida, é abraçada por Gal, que mais uma vez demonstra o seu amor por Portugal.

 

“Você não entende nada” leva o coliseu ao rubro com o público a cantar acapella a canção. “Meu nome é Gal… e não faz mal” e viajamos até 1979… onde as influências latin jazz marcaram a carreira da artista no disco “Gal” editado nesse mesmo ano…

Meu nome é Gal e amo igual, remata a canção. Para desânimo dos presentes, ao fim de 1 hora de concerto, Gal Costa despede-se do público, mas seria uma despedida breve para regressar por mais 3 vezes.

No primeiro encore da noite, recupera o clássico “Modinha para Gabriela” de 1975, tema marcante da novela da Globo “Gabriela” e que constitui provavelmente o maior sucesso da cantora, bem espelhado pelo apoio do público presente. A segunda canção do primeiro encore seria mais um clássico “Um dia de domingo” de 1985, um tema original de Tim Maia, mas que seria Gal Costa a dar o sucesso que a canção sempre conseguiu.

 

Nova despedida e novo encore, o segundo da noite traz uma versão de “Índia”, tema de 1973 em versão acapella e finaliza com Gal Costa mais uma vez a demonstrar o amor pelo nosso país, cantando de uma forma sentida o clássico de Amália Rodrigues “Uma casa portuguesa”.

 

O terceiro e último encore da noite traz uma Gal mais contemporânea, primeiro com o já clássico “Meu bem Meu Mal” do álbum “Fantasia” de 1981, e encerra com “Força Estranha”, mais um tema escrito por Caetano Veloso em 2008.

Uma força estranha que leva Gal a cantar e que não a faz parar, por isso é que ela canta e ao longo de 90 minutos encantou uma plateia que soube estar à altura da Grande Gal Costa. São 50 anos marcantes, com períodos únicos da MPB sempre atuais e que fazem que as suas canções mantenham atualidade ao longo destas 5 décadas.

Reportagem: Sandra Pinho

Fotografias: Paulo Homem de Melo

Partilha