Lisboa… a cidade que homenageia Carlos do Carmo

O ano de 2021 começou com a notícia do desaparecimento de alguém cuja voz se confunde com os últimos cinquenta anos de história do próprio país. Carlos do Carmo foi, sem dúvida, uma figura incontornável da cultura portuguesa, da sua música e do seu Fado… A ligação que tinha a Ary dos Santos, e a outros grandes letristas e compositores da sua geração, fez dele o intérprete que melhor cantou a cidade de Lisboa

Com Fado nos genes, filho de Lucília do Carmo, uma das maiores fadistas de sempre, Carlos do Carmo construiu uma carreira ímpar enquanto intérprete, atravessando gerações, e dona de êxitos como “Lisboa Menina e Moça”, “Os Putos”, “O Homem na Cidade”, “O Amarelo da Carris”, “No Teu Poema”, entre tantos outros.

Figura unânime e incontestada, Carlos do Carmo destacou-se sempre pela forma cuidada e ao mesmo tempo inovadora com que sempre olhou para a sua matriz, o Fado, e também pelo apoio e encorajamento dado às novas gerações de fadistas. Por estes e outros motivos, a sua influência para elevar o Fado ao longo dos últimos cinquenta anos foi constante, nomeadamente quando deu o seu contributo precioso, juntamente com o Museu do Fado do qual foi também grande impulsionador, para a candidatura da nossa música a Património Imaterial da Humanidade.

A fechar a edição de 2021, o Santa Casa Alfama apresentou a homenagem mais que merecida a Carlos do Carmo, num espetáculo que contou  com produção de Marco Rodrigues, também ele a homenagear um grande amigo, a sua principal referência, e o primeiro responsável pela paixão de Marco Rodrigues pelo Fado como referiu em palco.

Pelo palco Santa Casa passaram fadistas que, de algum modo, tinham uma forte ligação a Carlos do Carmo. Camané, Ricardo Ribeiro e Marco Rodrigues participaram no disco “Fado é Amor”, um registo em que Carlos do Carmo convidou alguns dos principais fadistas da nova geração para fazer um disco de duetos; Paulo de Carvalho foi um dos seus grandes amigos e parceiros no mundo da música, responsável por temas clássicos como “Lisboa Menina e Moça” ou “Os Putos”; Maria da Fé escreveu algumas  das principais páginas da história do Fado, ao longo das várias décadas em que Carlos do Carmo também o fazia; Sara Correia representa a capacidade criativa da nova geração, um traço que foi sempre apoiado e motivado pelo fadista; e, finalmente, o seu filho Gil do Carmo, admirador do trajeto e do trabalho do pai, participou nesta noite de homenagem como nobre representante dos fortes laços familiares do fadista.

Os músicos que acompanharam os intérpretes nesta homenagem foram os amigos que acompanharam Carlos do Carmo nas últimas décadas, a sua “família da estrada” como lhes chamava: José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola e Marino de Freitas no baixo.

Apesar de todas as limitações, o espaço praticamente lotado, encheu-se de emoção ao som das canções de Carlos do Carmo.

 

Fotografias / Reportagem: Paulo Homem de Melo

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