“Lay Claim to the World as a Sphere of your own agency”… novo disco de Jorge Coelho

Já está disponível online “Lay Claim to the World as a Sphere of your own agency”, o novo disco de Jorge Coelho. Editado com selo Lovers & Lollypops,  o registo será apresentado, ao vivo, a 6 de fevereiro no Plantetário do Porto. O concerto contará com uma projecção fulldome de uma visita guiada ao espaço e a participação dos percussionistas Jorge Queijo e Gustavo Costa.

 

Jorge Coelho regressa sem nunca ter partido: o seu novo registo, “Lay Claim to the World as a Sphere of your own agency”, acrescenta mais um elemento, um curto registo de cinco peças, a um universo paralelo, mas tangente, seu e que partilha espaço com o nosso; e é nos momentos de maior aproximação que a sua esfera se confunde com a nossa, ao encapsular nas suas mais recentes composições elementos deste lado do espelho, trazendo as ressonâncias de fundo, únicas das composições de Jorge Coelho, de novo para a flor da pele de quem o escuta. Há pequenos dilemas que torneiam de forma muito vívida e clara a silhueta do mundo que habitamos, para além das coordenadas geográficas que ocupamos e do tempo que tomamos. Um disco pequeno é um foco definido e claro sobre certos aspectos; neste caso, é sobre intenções maiores, apesar do despojo que um momento criativo urgente pode trazer para cada momento seu, e mais um acrescento a uma lista já longa do guitarrista e compositor portuense.

Esta é uma carga que se sente em cada uma das composições, reflectindo, neste lado do espelho, um ritmo e uma boçalidade fundamentalmente opostas à dos seus processos. Algo que se ouve ora nas palavras parcas de “Hollow Blue”, que acompanham uma guitarra precisa de intenções, ora numa mais desfocada “A Beacon of Sanity”, com reverberações a turvar a clareza das notas em prol de melancolia de outro lugar. E é uma carga que não é de um único instrumento, de uma só corda, ou de uma só pessoa, mas de tudo o que representa Jorge Coelho e que este traz para o registo, de uma nota de piano a um eco de vida distante.

 

Lay Claim to the World as a Sphere of your own agency” é um disco maturado, que encontrou no tempo o espaço para incluir outras auras, desafiando concepções de ego normalmente impostas por um registo de tão curta duração. Entre os dedilhados e retalhos de mundo de Jorge Coelho, medidos e pesados e com um cunho muito claro das suas melodias harmoniosas mas desconcertantes, surgem vozes de Paulo Miranda e João Pedro Almeida, textos e interpretações de Joana Domingues e Francisco Silva, gongs de João Pais Filipe, piano de Hugo Raro, e metalofone de Gustavo Costa, colaboradores e parceiros de longa data, cuja transição do nosso plano para o de “Lay claim…” opera a ilusão de partilharmos todos o mesmo espaço; não menos importante, são todos os elementos que, pela sua natureza impetuosa, torna cada melodia e frase humanas, fragilmente próximas de cada um de nós, mas apenas possíveis a Jorge Coelho.

 

Este é um disco de alguém cuja efemeridade se focou no perene sem a isso apontar; que perdeu a vontade colocar o seu ego a par e par com o ritmo de uma indústria e se dedicou ao mais inútil que se pode fazer: o belo. Uma expressão de algo que não serve qualquer propósito e cuja única motivação é uma busca de algo mais simples do que uma necessidade, tão profundo quanto um desejo. E é uma mensagem: que quem se nos segue encontre no mundo a possibilidade de ser algo para além dos horizontes que vos pintam, nem que seja ao criar o seu próprio universo

 

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