A voz de Nancy Vieira já se fez ouvir em praticamente todos os continentes e em cada recanto do mundo em que tal aconteceu uma coisa sucedeu invariavelmente: as pessoas quedam-se em reverente silêncio de cada vez que a sua voz límpida e directa nos fala das histórias, dos sonhos e anseios, das dores e alegrias das gentes das ilhas de Cabo Verde. É que na voz de Nancy cabem um país e o mundo que a diáspora foi abrindo.
“GENTE”, o seu novo álbum, sucede a “Manhã Florida”, trabalho que já data de 2018, e traduz uma assinalável ambição artística. Desde logo porque se trata de uma obra concebida com vagar, pensada, discutida e meticulosamente planeada. E o título, na verdade, já revela tudo o que importa saber: trata-se de um trabalho de encontros, de histórias, de ideias, de balanços, mas, sobretudo, de pessoas, como teve ocasião de explicar numa muito concorrida apresentação no B.Leza, em Lisboa.
Com produção repartida entre Amélia Muge, António José Martins e a própria Nancy Vieira, “GENTE” foi gravado em Lisboa entre o histórico estúdio Namouche e o Cervantes Estúdio de Jorge Cervantes, músico peruano que toca no álbum além de assegurar alguns dos arranjos. Esse mundo que Nancy Vieira tão bem conhece por já lhe ter percorrido os palcos entra também neste álbum: Lisboa, cidade em que Nancy estudou e há muito reside, marca farta presença – é afinal de contas a base de trabalho da equipa de produtores e de vários dos músicos, como o percussionista Iuri Oliveira, sofisticada força motriz de tanta grande música que tem sido lançada nos últimos anos entre nós; Mário Lúcio, Vaiss Dias ou Zé Paris são tesouros vivos da música de Cabo Verde que aqui tocam instrumentos de cordas, incluindo o baixo; do País Basco chega Olmo Marin, que também é mestre em cordofones; do Brasil são o acordeonista Luciano Maia e Gustavo Nunes; e da Ucrânia veio o violinista Denys Stetsenko. Um mundo de muita GENTE, de facto.