Festivais Gil Vicente avançam para a segunda semana com O Desprezo, Another Rose e Ainda Marianas

Terminada a primeira semana de espetáculos com as estreias de “Tratado, A Constituição Universal” (Diogo Freitas) e “Massa Mãe” (Sara Inês Gigante) no Centro Cultural Vila Flor (CCVF) e a apresentação de “Limbo” (Victor de Oliveira) no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), três novas propostas surgem em cena já a partir desta quinta-feira com um contínuo olhar questionador sobre o mundo.

 

Os Festivais Gil Vicente seguem assim no dia 9 de junho com “O Desprezo” dos auéééu, que se propõem a pensar o sentimento de desprezo, esta ausência de consideração pelas relações que cultivamos nas nossas vidas, o exercício de poder dominante, a manutenção dos seres desprezados. Pressupondo o sentimento de desprezo uma relação do olhar do outro sobre o ser desprezado – um olhar que o torna invisível, que renega ao primeiro gesto de humanidade pois não o reconhece como seu semelhante, que o reduz a uma insignificância e lhe retira existência – ou melhor, conferindo-lhe uma existência indiferente, os auéééu lançam questões como: O que nos diz este desprezo? O que nos diz acerca de quem despreza e de quem é desprezado? Que pensamento estruturante é revelado a partir dessa observação?

 

Talvez uma das possíveis respostas às perguntas acima formuladas possa ser dada pelas duas peças que fecham esta edição, onde o poder da mulher responde de forma inteligente, firme e destemida ao contexto patriarcal e opressor. “Another Rose” (10 junho) de Sofia Santos Silva (obra vencedora da 4ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço) projeta um diálogo entre a realidade oriental e ocidental a partir de um contexto particular, propondo uma colaboração com Gulabi Gang, um grupo ativista fundado por mulheres, sediado em Uttar Pradesh, no norte da Índia, para dar resposta à violência sistémica e discriminação generalizada de uma sociedade assente em práticas e costumes patriarcais que banalizam a violência sobre as mulheres.

 

Sobre esse combate nunca fechado contra a violência e censura, surge o espetáculo “Ainda Marianas” (11 junho), criação de Catarina Rôlo Salgueiro e Leonor Buescu a partir do livro As Novas Cartas Portuguesas publicado em 1972 por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, tendo este como ponto de partida as Cartas Portuguesas, romance epistolar publicado anonimamente, em 1669, e atribuído à freira Mariana Alcoforado.

Uma obra essencial do feminismo, que em 2022 faz 50 anos, e que realça a perspetiva partilhada por Rui Torrinha, diretor artístico dos Festivais Gil Vicente, ao afirmar que “Os novos lugares que procuramos construir em sociedade também passam por um entendimento mais claro e contextualizado sobre o nosso passado.”

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