Carlos A. Correia é um criador que se dedica à exploração das fronteiras da voz humana. Os objectos poéticos que propõe, embora centrados na voz humana, desdobram-se em diversas formas, desde a composição tradicional, a poesia experimental, o spoken word ou o audiovisual.
Síncope pretende capturar o retrato de uma época. Parte da alegoria do Homem que corre vertiginosamente e que de repente, cai. Que luta pela sobrevivência mas perde as forças, desmaia. Nesse limbo, entre a existência e o fim (ou reinício), deambula pelos fragmentos que ocupam a sua (in)consciência.
Há viagens tranquilas, que correm suavemente ao sabor do que nos é confortável, conhecido, prazeroso. Há viagens assim, mas Síncope não é disso exemplo. Síncope é uma viagem em alto mar, com ventos desconhecidos na frágil jangada dos nossos ouvidos e coração. Tira-nos do sítio, questiona-nos, surpreende-nos, desafia-nos às ligações mais frágeis da nossa memória, resgata emoções que aceleram o ritmo cardíaco… e eis que o vento acalma e nos sentimos novamente comandante de uma viagem por águas que reconhecemos, que controlamos. É um alívio… de pouca duração! O desequilíbrio instala-se novamente e somos projetados para o centro da tempestade. Entre a repulsa e a atração, entre o eu e o outro, Síncope é uma viagem para os mais audazes, os que desejam o desconhecido e que não temem o chão a fugir dos pés porque se sabem capazes de voar…
Photo: Ivo Raínha