Cinema marginal de Carlos Reichenbach revela-se em rara retrospectiva integral no Doclisboa’22

Em Outubro, o Doclisboa, em parceria com a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, apresenta uma rara retrospectiva integral da obra do cineasta brasileiro Carlos Reichenbach, um dos protagonistas do Cinema Marginal, importante movimento do cinema brasileiro, a par do Cinema Novo, nascido nos anos 60, em plena ditadura militar brasileira, no centro do bairro Boca do Lixo (São Paulo), como resposta à instabilidade vivida no país.

Atravessado pelas questões políticas e de censura impostas pelas forças militares, o Cinema Marginal surgiu como uma forma de expressão mais underground e experimental em relação ao Cinema Novo, tendo radicalizado a sua linguagem cinematográfica, aprofundando as suas questões e experiências, mas puxando as formas narrativas, estéticas e sociais para além dos limites convencionais.

 

Carlos Reichenbach, autor de vanguarda e um dos mais importantes desta geração, explorou diversos géneros e estéticas, entre o thriller, o pornográfico, o experimental, criando uma heterogeneidade estilística essencial para preservar a liberdade criativa face às condições sociopolíticas e económicas que enfrentava, colocando o cinema como um gesto de revolta contra o mundo estabelecido.

A retrospectiva revela uma filmografia de cinco décadas, que inclui vários filmes nunca antes mostrados fora do Brasil. Uma ode à utopia, ao sonho e ao desejo.

 

A obra do realizador brasileiro junta-se à já anunciada Retrospectiva A Questão Colonial, um programa que viaja entre 1950 e os dias de hoje, examinando a história da colonização, das guerras e da luta pela independência dos países africanos. Um passado comum a França e Portugal, mas sobretudo a Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Argélia, Tunísia, Senegal, Mali, Níger, entre outros, e que, neste programa, é debatido a partir do cinema documental de René Vautier ou Margarida Cardoso, das reconstruções ficcionais de José Cardoso, Licínio Azevedo, Assia Djebar ou da reflexão sobre a própria ideia de reconstituição pela dupla Filipa César e Sónia Vaz-Borges ou por Ruy Guerra.

É este cinema, testemunha do mundo colonial e que procura restituir as imagens de um mundo que foi privado de si mesmo pelos impérios ocidentais, que esta retrospectiva procura mostrar em Outubro, no âmbito da Temporada Portugal-França 2022.

 

 

Para assinalar as duas retrospectivas, no dia 1 de Julho, às 21h45, o Doclisboa e a Cinemateca Portuguesa irão apresentar uma sessão de antevisão, com a exibição de duas curtas do realizador: Sangue Corsário e Sonhos de Vida, e ainda Cabascabo, o primeiro filme realizado pelo cineasta nigerense Oumarou Ganda.

 

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