Que “Maria” é esta a encher o peito de Beatriz Rosário? O novo single de uma das maiores promessas da música portuguesa é um manifesto assinado em nome de uma mulher auto-suficiente, apaixonada no amor e lutadora na guerra.
Esta “Maria” não se esconde nas fragilidades, mas faz delas forças. A matéria que corre na artéria de quem celebra a feminilidade, consciente das dificuldades ainda hoje enfrentadas pelas mulheres, quando a sociedade lhes oferece a dupla responsabilidade de trabalhadora e mãe, para devolver em troca um papel secundário.
A resposta de Beatriz Rosário vem em forma de tons vivos. Um fado quente e desempoeirado de alma pop, vindo directamente das ruas onde a vida se vive. No ringue onde o vídeo foi rodado, a única competição é pela superação. De “Maria” e das Marias que todos os dias se transcendem para triunfar e transformar a sociedade.
A leitura singular que Beatriz Rosário faz do fado é-lhe natural. O avô mostrou-lhe o fado, mas foi a avó a insistir para cantar. Porém, no MP3 ouvia pop, hip-hop e r&b. E todas essas referências da linguagem urbana definem-na. Sem desrespeitar o fado e os seus costumes, como aliás Maria deixa bem claro.
O fado de Beatriz Rosário é comum ao de “Maria”. A procura e encontro de uma identidade própria, feita de herança e modernidade. Todos recebemos dos nossos ancestrais e deixamos aos nossos descendentes. O processo de construção é, antes de mais, de reconhecimento da memória, enquanto organismo vivo e activo.
Para chegar a um desfecho musical e visual tão marcante, contou com a produção da dupla Ariel e Migz, da tinta da caneta de XTINTO e das melodias desenhadas por TYOZ.
Até ao final do ano, deverá chegar o muito aguardado álbum de estreia de Beatriz Rosário, sucessor de um EP inaugural do ano passado. A expectativa tem factos a comprová-la.