A terceira sessão do “Conta-me Uma Canção” juntou Capicua e Sérgio Godinho

A terceira sessão do “Conta-me Uma Canção” juntou Sérgio Godinho e Capicua, o primeiro, repetente no ciclo, a segunda em estreia no conceito. Uma dupla de alguma forma natural, com universos que se cruzam e a singularidade que cada um dos artistas imprime no seu trabalho. O espectáculo abriu com “Parto Sem Dor”, que é talvez a maior aproximação da obra dos dois artistas: usando o original de Sérgio como refrão, Capicua juntou uma letra sua para o álbum Madrepérola.

Uma canção que, sendo de cada um, é também dos dois. Seguiu-se “Homem dos Sete Instrumentos”, por Sérgio com Nuno Rafael à guitarra, e “Medo do Medo”, em que Capicua foi acompanhada por Luís Montenegro. Estavam assim apresentados os protagonistas da noite e os seus acompanhantes.

Comunicadores natos, a conversa entre Sérgio e Capicua fluiu de forma orgânica. Os artistas partilharam com o público a antiguidade da sua relação musical, que remonta ao primeiro álbum de Capicua, quando samplou Sérgio com a sua autorização. Falou-se, como vem sendo hábito neste formato, da escrita de canções, das semelhanças e diferenças entre o rap e a canção, da escrita de livros, romances e poemas, de escrever para outros – que rendeu uma versão de “Tudo No Amor”, canção que Sérgio escreveu para os Clã, cantada pelo seu autor.

As duas vozes voltaram a juntar-se para “Grão da Mesma Mó”, do último álbum de originais de Sérgio, seguindo-se momentos a solo. Capicua cantou “Circunvalação” e Sérgio apresentou a primeira versão da noite ao interpretar “O Pequeno Ditador”, do álbum “Mão Verde II” da artista, antes de cantar a sua “Primeiro Gomo da Tangerina”, numa incursão ao universo infanto-juvenil que os dois têm percorrido.

Capicua cantou “Casa no Campo”, Sérgio cantou “O’Neill (Alguns Poemas Com Endereço)” e Capicua acalorou a sala com “Gaudí”.  A segunda versão da noite foi uma reinterpretação de “Que Força É Essa”, de Sérgio, pela rapper, adaptando a letra para falar da sobrecarga histórica de trabalho que as mulheres acumulam e alertando para esta desigualdade.

Ninguém na plateia terá estranhado as intervenções de carácter sócio-político dos cantores. Ambos conhecidos pela sua música interventiva, falaram do medo, da guerra que assola o mundo em tantas frentes, do crescimento dos populismos intolerantes, da importância dos valores de Abril e da necessidade de construir activamente a liberdade no quotidiano. Juntos cantaram “Os Vampiros”, de Zeca Afonso, acrescentando “Jugular” de Capicua, e terminaram com “O Elixir da Eterna Juventude” numa interpretação partilhada. Com uma ovação de pé, regressaram ao palco para uma versão de “Liberdade”, que abriu com o poema “Revolução” de Sophia de Mello Breyner Andresen.

O “Conta-me Uma Canção” termina no próximo dia 24 com a dupla Márcia e Luísa Sobral.

 

📸 Paulo Miranda

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