Os Mão Morta estão de regresso aos palcos com “Viva La Muerte!”, um espectáculo que junta os 50 anos da Revolução dos Cravos e os 40 anos de existência da banda, ao qual se aliam conferências com politólogos, filósofos e historiadores, relacionadas com as temáticas do espectáculo. A digressão passará por Braga, Lisboa, Faro, Aveiro, Ourém e Guimarães, entre Setembro e Novembro.
O ano em que a Revolução de 25 de Abril celebra 50 anos é também o ano do 40º aniversário de Mão Morta. À primeira vista, estes dois acontecimentos nada têm em comum, não fosse terem sido a liberdade e a democracia trazidas pela Revolução a permitirem a existência da banda, com a sua reconhecida postura estética e a fracturante intervenção social e política.
Numa época em que o perigo do regresso do fascismo se torna palpável, os Mão Morta não podiam deixar de se manifestar e de denunciar o ar dos tempos. A banda propõe-se, assim, a criar um espectáculo de comemoração e de alerta, com a composição de temas que irão buscar referências a autores como José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso ou Ary dos Santos, que viveram o fascismo salazarista e encontraram nessa opressão e censura a motivação para criar arte. Por outro lado, irão beber também às temáticas do fascismo contemporâneo, como o ultranacionalismo bélico, as teorias racistas da “grande substituição”, a globalização das teorias conspiracionistas, o ódio ao conhecimento científico e às instituições do saber ou o apelo ao pensamento único, de vocação totalitária.
É sobre este recrudescimento das forças maléficas anti-democráticas e do seu comportamento arruaceiro que os Mão Morta querem fazer um espectáculo, deixando claro os perigos que corremos e em que a democracia incorre. É o contributo da banda para os festejos do 25 de Abril, esse acto fundador dos dias radiosos em que Portugal cresceu nos últimos 50 anos. E também a maneira mais digna de celebrar os 40 anos da banda, dizendo presente quando a sociedade democrática em que vivemos e nos acolhe mais precisa, como é dever de qualquer artista e intelectual, enquanto “trabalhador do espírito”.
Paralelamente ao espectáculo de palco, os Mão Morta propõem ainda um momento de partilha de conhecimento e de saber em conferências com politólogos, filósofos e historiadores, lançando perguntas pertinentes: Quais as características dos fascismos actuais? Quais os seus perigos explícitos e implícitos? O que se mantém do fascismo histórico nos nacionais-populismos de hoje? Qual a relação dos fascismos actuais com as democracias liberais? Quais as liberdades que estão, nos novos fascismos, seriamente ameaçadas?, em debates moderados por elementos da banda.
As letras de “Viva La Muerte!” são da autoria de Adolfo Luxúria Canibal, a música de Miguel Pedro e António Rafael e os arranjos de Mão Morta. As conferências terão a participação de Carlos Martins, doutorado em Política Comparada pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, com uma dissertação de doutoramento sobre a ideologia de líderes de movimentos fascistas, Manuel Loff, doutorado em História e Civilização pelo Instituto Universitário Europeu em Florença, professor associado do Departamento de História e Estudos Políticos e Internacionais e investigador no Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, Sílvia Correia, doutorada pela Universidade Nova de Lisboa, com uma tese sobre as políticas de memória da Primeira Guerra Mundial em Portugal, professora na Universidade do Porto e especialista em História Contemporânea de Portugal e da Europa e Luís Trindade, doutorado e Investigador em História Contemporânea, Investigador e Director do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa / IN2PAST.
“Viva La Muerte!” inicia a sua jornada no Theatro Circo, em Braga, no dia 28 de Setembro, passando pela Culturgest, em Lisboa, no dia 3 de Outubro, pelo Teatro das Figuras, em Faro, no dia 11, pelo Teatro Aveirense, em Aveiro, no dia 17, pelo Teatro Municipal de Ourém no dia 23 de Novembro e terminando no Centro Cultural de Vila Flor, em Guimarães, no dia 30 do mesmo mês.
📸 Adriano Ferreira Borges