Os The Waterboys são muito mais que “The Whole of the Moon”. A carreira da banda aproxima-se das 4 décadas de discos e de estrada e regressou em 2019 com um novo disco, “Where the Action is“.
Sempre acarinhados pelo público nacional, a banda passou pelo último dia do Festival Vilar de Mouros com um dos concertos mais esperado e aplaudidos pelo público, onde deu a conhecer a sua nova vitalidade com as canções do novíssimo trabalho e não só.
Há algo de muito poético na forma como os The Waterboys interagem com o seu público que faz com que as suas actuações pareçam mais espirituais do que uma noite normal de entretenimento. Essa forma poética não coloca de lado o rock, pelo contrário, o chapéu de cowboy remete para o seu passado glorioso como ícones do folk rock com toques country. A completar esse visual, camisas com brilhos, saltos e homenagens a WB Yeats, numa mistura mística que faz todo o sentido.
Em palco assistimos a um colectivo de músicos realmente incríveis e profundamente comprometidos com as suas canções e com os seus fãs. A atuação da banda apresenta-se mais etérea do que um mero espetáculo, como se tratasse de cumprir e abração uma vocação.
Falando de músicos, Mike Scott é igualmente um excelente guitarrista, e precisa de o ser, pois é o único na banda, estabelecendo de uma forma metódica e sincronizada o ritmo e o alinhamento das canções apresentadas.
E por falar em canções, há uma verdadeira energia em canções como “A Girl Called Johnny”, “Glastonbury Song” e “Where The Action Is”. O poema de WB Yeats “The Lake Isle Of Innisfree” é uma homenagem muito comovente à musa poética de Scott.
Para além de Mike Scott, os actuais membros dos The Waterboys incluem o virtuoso teclista de Memphis “Brother” Paul Brown, o pianista James Holliwell, o baterista Eamon Ferris (de Belfast) e Aongus Ralston no baixo.
Esta formação explica de alguma forma a popularidade duradoura da banda, apresentando espectáculos indiscutivelmente tão emotivos e poderosos como os dias de glória dos anos 80, quando o violinista irlandês Steve Wickham tocava de forma hipnotizante com o espiritualismo poético de Mike Scott. Esse brilhantismo musical está agora a ser entregue pelo “Brother” Paul nas teclas.
Scott é a estrela, mas os The Waterboys são uma verdadeira banda, uma inquestionável grande banda ao vivo. Durante quanto tempo vamos gostar deles? Enquanto houver estrelas por cima deles. E mais tempo, se pudermos.
🖋 Sandra Pinho
📸 Paulo Homem de Melo