“Tributo” é o tema de apresentação do novo álbum de funcionário… “Cavalcante”

Pedro Tavares (1/2 Império Pacífico) tem desenvolvido, enquanto funcionário, uma linguagem mutante na electrónica e ideias à sua volta. Desde que surgiu, em meados da década passada, que há algo de híbrido nas suas composições, as peças estão sempre com um pé num e noutro lado, misturam ambição e inquietação.

Bom exemplo disso é “Shichishito” (Turva, 2020), onde os sons se confundem com néons e as canções acontecem numa interminável matéria de banda-sonora ou, se os headphones estiverem postos, numa deambulação por uma cidade imaginada, não vivida. A maior valência do músico sadino existe na linguagem que cria ao mostrar as lutas internas como algo que o ouvinte também pode interiorizar.

 

E assim se chega a “Cavalcante”, o pico de um momento, de uma ideia, de uma obra de fundação. Em nenhum outro álbum de Pedro Tavares é tão evidente o que escalou para chegar até aqui. Menos uma sensação de dificuldade, mais de respiração, apropriação e olhar atento a todas as tentações. Aborda jazz, ambiente, – facilmente se entra no “quarto mundo” de Jon Hassell -, electrónica e pop com a frescura de quem pode correr riscos. A seu lado músicos como Gabriel Ferrandini, Pedro Sousa, Noiva ou Adriana João contribuem nessa entrada.

 

“En Garde!” arranca com definições claras de um diálogo aberto entre músico e ouvinte. Uma ideia de erro é sugerida no início do tema e isso obriga a avançar quilómetros nas ideias que funcionário desenvolverá a partir daí. A descoberta cabe a cada um mas, uma vez feito o clique, há todo um território novo que se abre e a aceitação do vigor mutável das peças seguintes é controlada. Ou, se se quiser, manipulada pelo próprio músico, numa espécie de bate bola constante de ideias e soluções para a sua música.

Cavalcante” encadeia. A luz de temas como “Verde”, “Sierra”, “Publicidade Arco e Flecha” ou “ResidentSleeper” são paixões fáceis mas não facilitadas. Abrem caminhos, edificam outras ideias que se tornarão facilmente relacionáveis à medida que se interioriza um álbum tão determinante

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