M.Ou.Co. faz em outubro Reset à música antes da Ocupação…

Reset”, o último trabalho de Panda Bear, em dupla com Sonic Boom; e o álbum sensação – e de estreia – dos Fado Bicha, “Ocupação”; são dois dos grandes destaques do cartaz do M.Ou.Co. para outubro. A programação cultural contempla também as primeiras atuações em território nacional dos brasileiros Pietá e dos irlandeses Just Mustard (na foto). Pelo meio há igualmente uma intervenção surpresa com a chancela do Amplifest, à margem do festival, que decorre no Porto.

Mas começamos desta vez pelo meio do mês, para falar das virtudes do novo LP de Noah Lennox, que o mundo musical conhece como Panda Bear, em dupla com Peter Kember, que nos habituámos a ver como Sonic Boom. Residentes no nosso País há vários anos, sobem ao palco da Sala M.Ou.Co. a 14 de outubro próximo para apresentar o fresquíssimo “Reset” – um longa-duração que nasce da redescoberta e inspiração de Sonic Boom sobre os clássicos do rock-and-roll americano dos anos 50 e 60. E que resultou num conjunto homogéneo de canções algo caleidoscópicas, quer de maior complexidade quer de superior simplicidade, bem recebidas pela crítica da especialidade.

A 27 de outubro, a noite de será de “Ocupação”, o primeiro registo em disco do trabalho de João Caçador e Lila Tiago, que nasceram Fado Bicha para o universo artístico, e que será apresentado na Sala M.Ou.Co. em trio com Lari Tav.

As Fado Bicha convocam, na música e no manifesto que as acompanha, a memória de Valentim de Barros, que habitará agora eternamente na abertura do álbum, lançado em 3 de junho último. Nascido em 1916, na Rua da Boavista, em Lisboa, Valentim foi um bailarino prodígio que, por ser também uma bicha sem concessões, foi submetido a mutilação cirúrgica e cárcere psiquiátrico, durante mais de 40 anos, no Hospital Miguel Bombarda. “Requiem para Valentim” é, por isso, uma música de luto que desemboca num epílogo de celebração.

Tal como todo o LP de estreia das Fado Bicha, estamos perante um conjunto multiforme de canções: algumas que fazem parte do percurso de cinco anos de concertos, outras novas; algumas próximas do cânone do fado tradicional, outras experimentando novos paradigmas; algumas desoladas, outras ensaiando novas possibilidades conceptuais de resistência e prazer para um conjunto de pessoas historicamente sujeitas ao apagamento físico e simbólico.

A tudo isto, juntaram colaborações com outras artistas queer em Portugal: Symone de la Dragma, passarumacaco, Labaq, Trypas Corassão com uma produção elegante, a cargo de Luís Clara Gomes (Moullinex).

O fado é o instrumento que as Fado Bicha escolheram para evocar e convocar todas aquelas que, pela dissidência de corpo, género e desejo, foram mortas, obliteradas, agredidas, aviltadas. Para ocuparem, todas juntas, as vivas e as mortas, um futuro iminente. Chorando e dançando de corpo presente.

 

Em apenas um dia, o M.Ou.Co. passa de pimenta na boca para Just Mustard. O quinteto de Dundalk (Irlanda), conhecido pela sua batida que funde elementos de post-rock, shoegaze e dream pop traz ao Porto, a 28 de outubro, o álbum que apresentou na digressão europeia com os Fontaines DC, nos últimos meses.

Mas o mês tem mais música falada em português, com aquele sotaque especial depois de se atravessar o Atlântico. Falamos dos Pietá. Gerados há 10 anos pelo encontro de Juliana Linhares, Fred Demarca e Rafael Lorga, quando estudavam teatro, o trio transita por diferentes ritmos e temáticas, num reportório maioritariamente autoral que revela interesse em exaltar a música popular brasileira contemporânea.

A banda, que habituou o público a desempenhos irreverentes em palco, arranca assim em Portugal, na Sala M.Ou.Co., logo a 1 de outubro, a sua primeira tournée europeia, com o novo show “Nasci no Brasil” – que serve de veículo para cantar o “fogo” que é ser brasileiro, misturado com a poesia que o seu povo traz na essência, além das influências do samba e todas as fusões musicais tão características do trabalho dos Pietá.

O mês começa, no entanto, com o Sarau Delas, logo no dia 1, às 16h00. Criado em Lisboa, em outubro de 2020, em plena pandemia, a iniciativa é um espaço de troca entre artistas. Troca de poesia, música, dança ou teatro, isto é, todo o tipo de manifestação artística, com predominância daquelas onde a palavra é rainha. O projeto nasceu para que as mulheres artistas se sintam à vontade para partilhar as suas criações.

Em palco estarão, desta feita, Gabriela Abreu (produtora cultural e poeta), Nati Valle (escritora, arte-terapeuta, feminista e grande entusiasta do desenvolvimento da autoconsciência), Gabriela do Amaral (poeta, designer e mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes) e Yosune (compositora e cantora de histórias inspiradas na música latino-americana, no folk e na canção de autor).

Pelo meio haverá, no final de tarde do dia 12, a partir das 17h45m, uma intervenção surpresa emanada do Amplifest, à margem do festival que ocupa o portuense Hard Club. A iniciativa é gratuita para quem adquiriu os passes de acesso ao Amplifest.

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