Festival Porta-Jazz apresenta um caldeirão de arte, música e humanismo

O Festival Porta-Jazz regressa de 3 a 5 de fevereiro com um caldeirão de arte, música e humanismo. Os vários palcos do Teatro Rivoli recebem a 13.ª edição cuja programação reflete o trabalho desenvolvido pela Associação Porta-Jazz ao longo do ano, as interações que resultaram na edição de novos discos pelo Carimbo, e as muitas residências e partilhas.

A 13.ª edição do Festival Porta-Jazz traduz a dinâmica da comunidade de músicos de Jazz e alimenta-se do engenho, empenho e contribuição humana e artística de uma coletividade heterogénea quanto às gerações, correntes artísticas e origem dos elementos que nela se misturam.

 

Destaque para a estreia da encomenda feita ao pianista Miguel Meirinhos – figura de proa da nova geração do jazz portuense –, que convidou o emergente saxofonista inglês Joshua Schofield, o espanhol Ricardo Formoso no trompete, e os portugueses João Fragoso (contrabaixo), e João Cardita (bateria), para um concerto onde a estranheza dará lugar a um momento enérgico, espontâneo e livre. E de “Interferências” do Coletivo OSSO/Porta-Jazz – resultado de uma residência de criação, durante a qual os territórios poéticos de seis músicos (João Grilo – piano, eletrónica e voz; Joana Castro – movimento e voz; Nuno Morão – bateria e voz; Ricardo Jacinto – violoncelo, eletrónica e voz; Susana Santos Silva – trompete, eletrónica e voz) se transformam em espaço de contaminação mútua.

 

Relativamente a parcerias: o Ensemble Porta-Jazz/Robalo – que resulta do encontro com a congénere lisboeta, Associação Robalo – fará uma declaração conjunta de interesses apresentando música original com fortes raízes no jazz e na música improvisada, trabalhada para o festival por Nazaré da Silva (voz), Bernardo Tinoco (saxofone), Gil Silva (saxofone), Duarte Ventura (vibrafone), Pedro Molina (contrabaixo) e Eduardo Dias (bateria).

Fruto da residência no Festival Guimarães Jazz será apresentado “Liquify, Spread and Float”, projeto liderado pela multifacetada cantora Inês Malheiro, com Carolina Fangueiro (visuais), Daniel Sousa (saxofone e electrónica), João Almeida (trompete), José Vale (guitarra) e Vicente Mateus (bateria). Ao vivo, exploram o diálogo entre várias disciplinas artísticas, a partir da percepção da visão do som na criação de música livre.

 

Será ainda possível conhecer o que de mais atual se faz no Jazz europeu com o trio Wabjie, composto por Soraya Berent (voz e electrónica), Michel Wintsch (piano, teclados e electrónica) e Samuel Jakubec (bateria), que vem da Suíça/ Genebra; com estreia de “Into The Big Wide Open”, do austríaco Alfred Vogel (bateria), que se apresenta com três músicos da cena jazz berlinense (Eldar Tsalikov – saxofone e clarinete; Valentin Gerhardus – piano e live sampling; Felix Henkelhausen – contrabaixo), e convida para uma aventurosa e audível viagem pela infinidade do grande vazio; do duo Alfons Slik, composto pelo pianista Grzegorz Tarwid e o baterista Szymon Pimpon Gasiorek, dois aventurosos músicos da Polónia que conjugam o seu virtuosismo com vocalizações e experiências sónicas entre a tradição do jazz, a improvisação livre, música contemporânea, poesia, rock’n’roll, pop moderno, disco e os costumes dos casamentos polacos; e Liudas Mockūnas (saxofones), Arnas Mikalkenas (piano, acordeão) e Håkon Berre (bateria), da Lituânia, que são o ingrediente báltico no caldeirão do 13.º Festival Porta-Jazz, e o resultado pode caraterizar-se como jazz de câmara moderno inspirado na música contemporânea e no free jazz.

 

Ao longo de três dias, 70 artistas apresentam-se em 17 concertos nos diferentes espaços do Rivoli. O veterano pianista Carlos Azevedo apresenta o seu mais recente registo “Serpente” em quarteto, com Miguel Moreira (guitarra), Miguel Ângelo (contrabaixo) e Mário Costa (bateria), uma formação reduzida ao invés das grandes e sinfónicas formações às quais a sua música tem sido dedicada; o pianista Pedro Neves apresenta o seu quarto álbum “Hindrances” (Carimbo) em trio, com Miguel Ângelo (contrabaixo) e José Marrucho (bateria); o contrabaixista italiano Gianni Narduzzi dará a conhecer ao vivo “Dharma Bums” lançado em 2022 (Carimbo), com Hugo Caldeira (trombone), Afonso Silva (saxofone), Joaquim Festas (guitarra) e Gonçalo Ribeiro (bateria); o guitarrista e compositor Nuno Trocado e o dramaturgo Jorge Louraço Figueira partilham “Umbral(na foto) , um trabalho multidisciplinar com cinco músicos (João Pedro Brandão – flauta, saxofone alto; Nuno Trocado – guitarra elétrica, composição; Sérgio Tavares – contrabaixo; Acácio Salero – bateria; Pedro Pires Cabral – theremin, samples, gravações de campo) e uma atriz (Catarina Lacerda – voz); o guitarrista Eurico Costa em formato trio, com Demian Cabaud (contrabaixo) e Marcos Cavaleiro (bateria), apresenta “Copal” (Carimbo); os Bode Wilson dão a conhecer “Aether” (Carimbo), o terceiro disco do trio (João Pedro Brandão – saxofone alto e soprano, flauta, pedaleira de órgão; Demian Cabaud – contrabaixo e charango; Marcos Cavaleiro – bateria e percussões) que não se conforma com fórmulas estanque e definidas e que parte sempre para a descoberta de novos caminhos. Um trio que, às habituais ferramentas, acrescenta aqui o charango, as percussões e uma pedaleira de órgão; os 293 Diagonal revelam “Membrana”, entre a canção, a improvisação e a eletrónica, com Joana Raquel (voz) e Daniel Sousa (saxofone e electrónica) convergem as suas influências e criam um espaço não-convencional, performativo e íntimo; e o guitarrista e compositor AP apresenta, em quarteto, “Nu” (Carimbo), com José Diogo Martins (piano e teclados), Gonçalo Sarmento (baixo elétrico e contrabaixo) e Gonçalo Ribeiro (bateria), e, juntos, vão explorar a simplicidade melódica, o rigor formal, ambientes e texturas contrastantes, o groove e a improvisação, numa demanda musical que visa sempre alcançar a frescura e a imprevisibilidade

No domingo, às 21h30, o projeto Do Acaso, que cruza música com literatura, encerra os concertos no Grande Auditório do Rivoli com 12 músicos em palco, liderados pela contrabaixista Sara Santos Ribeiro, a apresentarem “Catarse Civil”: um exercício neo-surreal de materializar “os sonhos da humanidade que dorme”.

No final da noite, como é habitual, o Café Rivoli recebe, às 23h30, showcases das escolas Art’J – JOBRA (dia 3), ESMAE (dia 4) e Conservatório de Músicas do Porto (dia 5), seguidas de jam sessions com os músicos do festival e toda a comunidade.

 

Antes do arranque no Rivoli realiza-se uma sessão de abertura do festival no novo Espaço Porta-Jazz (na Praça da República), dia 2 de fevereiro, com o concerto do Ensemble Porta-Jazz/Robalo e a inauguração de instalações sonoras de Nuno Trocado, Sofia Sá e Susana Santos Silva. Com este novo espaço, a multidisciplinaridade artística foi amplamente reforçada e esta mostra é disso um bom exemplo.

Partilha