Vodafone Paredes de Coura 2018… Amores, desilusões e revoluções

E ao terceiro dia de Vodafone Paredes de Coura, a energia sobe de nível, os amores são cantarolados, as desilusões são muitas, e a revolução era instalada ao final da noite. A energia ganha forma ao meio da tarde no palco jazz na Relva com os Quadra e os Vaarwel. Os amores de Kevin Morby e as desilusões de Lucy Dacus ganham forma. A revolução das pussy Riot fecha a noite com um grito de emancipação.

(Clique na imagem para ver a galeria completa)

Smartini, quarteto oriundo das Caldas das Taipas, juntos desde 1992 (ainda que se apresentassem com outro nome), começou a tocar sob a influência do grunge de Seattle, género que se tornou símbolo de uma geração que berrava um descontentamento com a sociedade do momento. Os Smartini cresceram e buscaram outras inspirações com sonoridades mais harmónicas e em 2016 regressaram, confirmando toda a sua vitalidade, com o EP “Liquid Peace”, que serviu de apresentação da banda no palco Vodafone FM logo ao final da tarde. A vitalidade em palco esteve presente ao longo dos 40 minutos em que “riffs” e “batidas” pulsaram junto do público.

(Clique na imagem para ver a galeria completa)

Entre amores e objectivos de vida alcançados, a música de Lucy Dacus surge em palco como um filme negro da época dourada de Hollywood. Estreia-se em 2016 com “No Burden” desapontada com o seu percurso profissional no cinema. Em 2018 regressa com “Historian” (2018), uma assertiva declaração de intenção depois de um periodo de afirmação. Ao longo do concerto no Vodafone Paredes de Coura, a jovem norte-americana assumiu o total controlo de todo o seu poder. “Historian” é um discurso de afirmação, de conquistas e emocionantes declarações e momentos de paz que foram arduamente conquistados. O concerto em Paredes de Coura marcou o início da digressão Europeia de “Historian”, o que contribui para alguma timidez difícil de disfarçar em palco. Não sendo um dos concertos do dia, será um nome a guardar para uma futura passagem por Portugal, como o própria frisou que gostaria de regressar a terras lusas.

(Clique na imagem para ver a galeria completa)

Imarhan, argelinos de nacionalidade mas tuaregs de afirmação. Em 2016 chegam a uma das editoras mais aclamadas da música independente mundial, a City Slang, editando na altura o seu primeiro registo homónimo. O sucesso a nível mundial ultrapassa as expectativas e este ano regressaram novamente com o selo da City Slang com “Temet”. As características únicas da sonoridade tuareg estão bem patentes neste quinteto argelino com raízes no centro de África.

(Clique na imagem para ver a galeria completa)

De volta ao Palco Vodafone, Kevin Morby regressava ao Vodafone Paredes de Coura desta vez para apresentar as canções de “City Music”. Se Lucy Dacus seguiu os caminhos errantes da folk, Morby seguia pelos mais sinuosos bem característicos do músico que trocou Brooklyn por Los Angeles. A guitarra, a velha aliada de Morby desde os tempos dos Woods, construía uma linha de sonoridade envolvente para um início de noite melódico e bem delineado no tempo e espaço. “Abroad my Train”, “Come to me now” e o próprio “City Music”, tema que dá titulo ao novo disco, foram presenças fortes no alinhamento deste regresso a Portugal do norte-americano.

(Clique na imagem para ver a galeria completa)

DIIV (ou Dive) surgiram em Brooklyn em 2011 pela mão de Zachary Cole Smith. Aquecimento para os Slowdive, os DIIV na sua combinação de shoegaze com grunge catártico, tinha tudo para o concerto perfeito, mas os humores de Zachary Cole Smith deitaram parte da apresentação por terra, nesta que é a única apresentação europeia da banda em 2018. Viagens a locais com múltiplas texturas, e ambientes fantasiosos, a música dos DIIV surge como alternativa pós punk única e especial. “Is The Is Are” serviu de base a apresentação no Vodafone Paredes de Coura. Temas com “Bent (Roi’s Song)”, “Blue Boredom (Sky’s Song)” ou “Is The Is Are” não faltaram no alinhamento.

(Clique na imagem para ver a galeria completa)

Os Slowdive já eram bastante aguardados pelo público, sendo uma banda bastante acarinhada pelo público português, a recepção dos festivaleiros foi notória quando os membros do grupo sobem ao palco pelas 23.15 horas. Os britânicos, já com uma carreira de mais de 25 anos, sabem bem conquistar grandes audiências em festivais com o seu som indie-pop num misto de psicadelismo e “dream pop” através da voz envolvente de Rachel Goswell. A banda passou  os seus êxitos em palco sem esquecer o regresso aos discos em 2017 com o homónimo “Slowdive”. Os riffs de guitarra aliados a um psicadelismo a reviver os anos 60, fizeram-se igualmente ouvir para delírio dos milhares que já enchiam o recinto.
Duas décadas é muito tempo e não é de um dia para o outro que se conseguem recuperar as memórias do longínquo ano de 1994. Mas foi isso que Nick, Rachel, Neil, Simon e Christian fizeram em 2017, pegar nas guitarras, nos baixos, na sonoridade sonhadora de Slowdive para darem uma nova vida a uma banda que é, por muitos, considerada uma das pedras angulares do indie britânico como ficou mais uma vez demonstrado neste regresso em 2018 ao Vodafone Paredes de Coura.

(Clique na imagem para ver a galeria completa)

Depois da passagem pelo NOS Primavera Sound em 2017, Skepta trazia o hip-hop pela primeira vez a Paredes de Coura. Desde “Greatest Hits” em 2007, o fenomenal disco de estreia em 2007, que a ascensão de Skepta tem sido imparável, prova disso foi a energia em palco na noite de sexta feira, apenas enssombrada pelo comportamento algo primitivo de algum público que provavelmente se entusiasmou demais. Apesar de defender que o grime nunca esteve adormecido, Joseph Junior Adenuga, a.k.a. Skepta, teve o seu papel no ressurgimento do género, inspirado no hip-hop britânico e americano. “Konnichiwa”, disco de 2016, vestiu de tons azulados e negros o palco verdejante do Vodafone Paredes de Coura. Uma aposta no hip hop que se revelou vencedora.

(Clique na imagem para ver a galeria completa)

O número de membros foi sempre uma variável das Pussy Riot. Fundado por Nadya Tolokonnikova em 2011, em Moscovo, o elenco rotativo de músicos e artistas chegou a contar com 11 activistas nos seus protestos. Ao Vodafone Paredes de Coura foram 3 que subiram ao palco Vodafone FM já de madrugada. A revolução estava instalada. Mais de 20 mandamentos contra a sociedade e contra a Rússia de Putin foram emanados de forma concisa e muito directa. A crítica à ganância, ao consumismo, ao despesismo sobem de tom ao longo das várias frases projectadas em fundo.
As acções das Pussy Riot trouxeram-lhes um público mundial para a sua mensagem e para a música pós-feminista que fazem enquanto banda electro-punk. Batidas e rimas em inglês com algumas tiradas em russo, transmitem a suas discordia com o que se passa no seu país de origem. A sua música ganha formato com a edição de “In Riot We Trust” que serve de suporte às suas apresentações. Um final de noite de encheu como nunca o espaço ocupado pelo palco  Vodafone FM.

Ao terceiro dia, o festival ganha a sua consistência já característica e com um recinto mais ‘amigo’ do público. Um terceiro dia marcado pelo mais que extraordinário concerto dos Slowdive e com a revolta em palco das Pussy Riot. Para hoje, espera-se um dia em cheio mais isso fica para depois.

 

Reportagem: Sandra Pinho
Fotografias: Paulo Homem de Melo

Partilha