Já está disponível em formato digital e em vinil o novo disco de P.S.Lucas. “Villains & Chieftains“ tem selo Marca Pistola e já pode ser adquirido através do bandcamp e das redes sociais do músico ou na La Bamba em Ponta Delgada.
Nem é preciso ir mais longe, os segredos são todos revelados na breve descrição que no Bandcamp apresenta P.S.Lucas ao mundo: “derivas literárias, colagens musicais e muita deambulação”. Totalmente verdade. Ouça-se, como prova número 1, “Means & Ends”, o primeiro single a anunciar o novíssimo álbum “Villains & Chieftains”, um tema que começa como um bom livro, daqueles que não se despegam do nosso olhar, nem que queiramos: “Later it got dark / Then it was just a start / You were standing in the room / The light was soft in the afternoon / And our dreams, they were left all the way in the back”. Está lá tudo: gente viva e um lugar, emoções, um tempo e uma luz. E se a canção começa como um bom livro, termina como um grande filme que nunca foi rodado: “We drank all the champagne / We drowned and left our pains / Past the river-crossing ferries / And that picture of the Golden Gate”.
Neste álbum, P.S.Lucas, que canta e escreve e toca guitarras e até alguns sintetizadores, volta a rodear-se de amigos, novos e velhos: Pedro Branco toca guitarra, João Hasselberg toca baixo, João Sousa senta-se à bateria e Augusto Machado ao Fender Rhodes. Há também um coro de harmonias transparentes, como convém para as canções que começam como livros e terminam como filmes: Anastácia Carvalho, Manuela Oliveira e Selma Uamusse carregam a brisa nas suas vozes. O álbum foi produzido por Mariana Ricardo (Minta & The Brook Trout, They’re Heading West) e pelo próprio Lucas, gravado pelo incansável Eduardo Vinhas e masterizado pelo veteraníssimo Mário Barreiros.
Depois de “In Between”, trabalho que lançou em 2021, quando o mundo era um sítio muito distante, este “Villains & Chieftains” é mais uma tranquila revolução, daquelas que só faz estremecer os corações de quem as escuta atentamente. O álbum foi antecipado por um segundo single, “Villain”, mais um pedaço de sábia conjugação de melodias e palavras de literatura ou cinema do bom, de progressão rítmica tranquila e de arranjos que fazem tudo para não agitar as águas em que a voz de Lucas mergulha. É pop com ecos de folk, ou soul movida pela mais leve insinuação de jazz, ou simplesmente música que transforma quem a escuta apenas porque carrega juras daquelas que só cabem nas canções. Prova número 2: “I’ll refuse obedience to stale and lifeless sentences”. Uma recusa que deveria ser de toda a gente, na verdade.
Como essas duas faixas há mais oito em que P.S.Lucas nunca permite que o seu pulso se acelere, ainda que a densidade emocional seja elevada, uma espécie de geleia espessa que nos prende e que é feita de ideias e alguns falsetes, de cadências trémulas como a luz de uma vela ao vento. E no fim, como o ouro que nos espera onde o arco-irís termina, há “Happiness”, original de Molly Drake, a mãe do primeiro Nick de canções doridas que o mundo aprendeu a amar. Como uma borboleta numa manhã de Abril, escrevia Molly e canta agora Lucas, a fechar uma viagem por um lugar mágico de onde brotam novas canções que uma vez escutadas convidam a repetidas audições, porque em cada uma há segredos que só a familiaridade revela. Prova número 3: “And I hold / All these words in my throat just until I can’t anymore”.
Para lá de Medeiros/Lucas, bem para lá d’O Experimentar, P.S.Lucas traça um percurso artístico cada vez mais singular com o novo “Villains & Chieftains”, criando uma obra feita de canções que são mistérios que não vamos conseguir desvendar, mas não faz mal. Nem tudo no mundo tem que se resolver. Só, talvez, as canções que começam como livros e acabam como filmes e no meio têm tudo o resto.