“Vespa” é uma peça sobre uma cabeça a explodir, sobre o que nem sequer falhámos porque nos coibimos de cumprir. Na dupla condição de voyeur, a do outro e a de si próprio, o público compõe o tétris do personagem em cena, desafiando a sua própria conceção do registo público e privado. Este solo é uma possibilidade, uma fractal, marca fugaz.
Rui Horta é um veterano selvagem. Só essa condição lhe permite, hoje, a ousadia e a obstinação de voltar ao palco após 30 anos de ausência. Ou é, ou não é. Então, que seja. Um solo, interpretado pelo próprio.
Que haja luz, fogo, dor e, sobretudo, corpo. Que haja um raio que ilumina e destrói. Mas que haja. Que seja. Uma vespa dentro da cabeça, um zumbido a roer o pensamento.
Após 30 anos de ausência dos palcos, o coreógrafo e bailarino dança existência fora, projetando num plano infinito a ideia do eterno começo, criando futuros.
CineTeatro Estarreja
24 de Fevereiro 2018 | 21.30h