O músico de jazz Carlos Martins (alentejano de gema) pensou mesmo diferente e conseguiu um projeto que junta, pela primeira vez na história da nossa cultura, o Cante Alentejano e os sons do Mediterrâneo com o Jazz, criando uma abordagem absolutamente original.
O novo trabalho é apresentado e lançado num espetáculo no CCB dia 17 de maio, com projeção ao vivo de fotografias de José Manuel Rodrigues.
“Vagar” é o resultado do trabalho de um coletivo, que Carlos Martins foi desassossegando e juntando à sua volta.
A escrita musical foi acompanhada de perto por dois reputados cantadores alentejanos, Hugo Bentes (Serpa) e Pedro Calado (Évora), pelo escritor José Luís Peixoto, que escreveu algumas das letras e textos e pelo fotógrafo José Manuel Rodrigues (Prémio Pessoa), que ilustra a música e as palavras criando um campo visual onde as linguagens se conectam.
Estes artistas, todos alentejanos, pensaram em conjunto no que é ser alentejano no mundo hoje, transpondo para a música, as palavras e as imagens uma abordagem contemporânea do Cante. O Jazz é usado como elemento que inibe a normalidade para reinventar a tradição, sem medo de correr riscos, criando espaço para a liberdade na composição e arranjos.
O Cante, Património Imaterial da Humanidade, é uma arte coletiva por excelência, tal como o Jazz. Neste sentido esta proposta aborda criativamente o diálogo entre o ego e a comunidade, tão complexo nos nossos dias, lançando pontes entre a composição, a improvisação e o Cante.
“Vagar” nasce da vontade de deixar uma obra global que proponha uma nova abordagem ao Cante Alentejano com todas as suas influências, no seu alcance geográfico e espiritual. Servirá o projeto como laboratório para a construção de um novo repertório assente nas raízes do Cante Alentejano.
A ideia central de composição parte de uma visão cosmopolita da tradição alentejana da respiração dos espaços e dos tempos, numa certa lassidão, na luz extrema e nos contrastes de sombra, na generosidade e em paisagens sonoras que nos reaproximem de uma vida consciente das diferentes ecologias.
A ambição é assumida: pretende-se que este projeto disruptivo fique registado para memória futura, através de um CD e de um registo documental (textual, vídeo e fotográfico online), a ser partilhado também através de espetáculos ao vivo, que permitam piscar o olho e captar novos públicos e novos praticantes do Cante e do Jazz.