Transatlântica… Uma exposição de Elsa Leydier

Os Encontros da Imagem contam com mais de três décadas de existência e têm por missão a promoção da fotografia clássica e contemporânea através da mostra de trabalhos de autores consagrados e emergentes.

 

Com o tema Génesis 2:1, que convida a uma reflexão sobre o atual momento charneira que marca a evolução da nossa sociedade, a edição de 2021 vai decorrer de 17 de setembro a 31 de outubro, e engloba 47 exposições com a participação de 64 fotógrafos, distribuídas por 25 espaços distintos em 5 cidades.

No Porto, serão 6 os espaços a acolher os Encontros da Imagem: o IPCI – Instituto de Produção Cultural e Imagem, a Galeria Salut Au Monde!, a Galeria Adorna Corações, o Mira Forum, The Cave Photography e o Maus Hábitos/ Saco Azul.

 

A partir do dia 17 de setembro, às 15h, a Sala de Exposições dos Maus Hábitos, acolhe “Transatlántica” de Elsa Leydier, uma exposição que combina três projetos da artista francesa, recém premiada com o prémio Emergentes – Prémio Internacional de Fotografia em 2020, como Talento Emergente nos Prémios Dior Photo Award e no Maison Ruinart/Paris Photo Prize. “Plátanos con Platino”, “Braços Verdes Olhos Cheios de Asa” e “Brazil: System error” misturam-se nesta curadoria e são fruto da sua experiência na América Latina, onde vive e trabalha desde 2015.

 

O projeto “Plátanos con Platino” mostra a região de Chocó, na Colômbia, numa perspetiva inesperada e por isso infinitamente mais bela. Conhecida pela sua extrema pobreza, violência e problemas sociais, esta região é também das mais ricas em biodiversidade e recursos minerais no país. O título é retirado de uma frase de Gabriel García Marquez que escrevendo sobre a região e aludindo à sua riqueza natural, dizia que se ali fossem plantadas bananeiras, as bananas cresceriam com pepitas de platina. Assim, Elsa distorce a imagem comumente negativa da região, foca os seus aspetos mais esquecidos, recuperando a beleza original do território através da sua fotografia.

 

Em “Braços Verdes e Olhos Cheios de Asas”, Elsa Leydier partiu de imagens da Amazónia retiradas da imprensa e de fotografias da sua autoria, para através de um processo em fluxo de montagens, colagens e intervenções plásticas, criar uma representação não da realidade, mas da perceção que temos daquele território.

 

Brazil: System Error” é um trabalho realizado em 2018, entre as duas voltas das eleições presidenciais no Brasil que deram a vitória ao atual presidente. Com uma forte carga política e ideológica, este trabalho parte de imagens recolhidas através de motores de busca na internet a partir da palavra “Brasil”, constituindo assim um conjunto de imagens icónicas do país. Estas imagens foram depois “corrompidas” através da técnica de glitching (técnica originalmente própria ao mundo dos videojogos, consistindo em alterações visuais devidas a erros e falhas no sistema), introduzindo no código frases violentas, racistas, homofóbicas, e misóginas pronunciadas pelo presidente brasileiro e pelos seus apoiantes.

 

Com uma obra que parte da fotografia, a artista explora os limites da sociedade através da desconstrução de imagens icónicas com o intuito de lhes imprimir uma carga política e social.  Leydeir propõe um olhar atento a imagens que “à primeira vista parecem convidar a desfrutar de viagens e exotismo. Mas o fascínio a que elas podem induzir, rapidamente dissipa-se uma vez que foram modificadas plasticamente ou até mesmo distorcidas”.

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