Mesmo a altas temperaturas e durante um mês menos movimentado, a Temporada Portugal-França preenche o país com um plantel cultural único.
Em agosto, sugere-se a revisitação de alguns dos momentos mais marcantes da agenda da Temporada, que terminam este mês, em Lisboa e no Porto. Mas também um encontro com uma dupla nómada que chega à capital portuguesa quase no final da época estival.
Na Fundação Calouste Gulbenkian, até dia 22, mantém-se a exposição “Europa Oxalá”, onde 21 artistas afrodescendentes de segunda e terceira geração desconstroem e reconstroem a herança de vozes, sons, gestos e opressões que receberam. Neste retrato da África contemporânea, com curadoria de António Pinto Ribeiro, Katia Kameli e Aimé Mpane, as obras refletem sobre o racismo, a descolonização das artes, o estatuto da mulher na sociedade contemporânea ou ainda a desconstrução do pensamento colonial. “Europa Oxalá” testemunha o poder criativo da diversidade cultural europeia contemporânea e abre novas perspetivas à própria noção de Europa.
Ainda em Lisboa, nomeadamente no maat – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, existe um portal que dá acesso à imensidão do espaço, seja o do universo afora ou do universo adentro. Através de uma seleção de mais de uma centena de obras de artistas internacionais dispersos em diversas disciplinas artísticas, “Traverser La Nuit” convida a uma das mais importantes coleções privadas francesas, do criador da Fundação La Maison Rouge, Antoine de Galbert. Até dia 29 de agosto, é possível atravessar a escuridão infinita da noite acompanhado de artistas como Christian Boltanski, Lucio Fontana, Miriam Cahn, Zanele Muholi, Roman Opalka, Marina Abramović, Jorge Molder, Patti Smith, Annie Leibovitz ou Man Ray.
No Porto, última oportunidade para conhecer a exposição-performance de Tarek Atoui, “O Testemunho das Águas”, que permite uma viagem pelos sons das cidades portuárias de Atenas, Abu Dhabi, Singapura e Beirute. Na Fundação de Serralves, até dia 28, o artista e compositor eletroacústico líbano-francês propõe experienciar uma investigação antropológica, etnológica e musicológica, onde os sons dos portos retratam o passado, o futuro e o devir desses lugares.
Durante este mês, também a norte, no Maus Hábitos, arranca o Open Lab que junta a portuguesa Leonor Parda e a francesa Aliha Thalien. A partir de 4 de agosto, as artistas partilham os seus processos criativos e resultados da residência cruzada que desenvolveram no âmbito da Temporada Portugal-França. Uma aliança entre Clermont-Ferrand e o Porto – duas cidades com fortes laços históricos.
A fechar o mês, entre 30 de agosto e 11 de setembro, desenrola-se a jornada da dupla boijeot.renauld por Lisboa. Em 13 dias de travessia pela cidade, os artistas naturais de Nancy vão habitar as ruas com móveis de madeira e convidar os habitantes a ocupar os seus lugares. Como os próprios explicam, “agir na rua é a melhor forma de adquirir conhecimento das nossas práticas comuns, das nossas memórias partilhadas”. Por isso, de rua em rua, de bairro em bairro, questionam os limites do íntimo, do privado e do público, terminando a sua viagem na freguesia de Santa Clara, onde a performance “Lisboa Crossing” se cruza com o festival TODOS – Caminhada de Culturas.
