Partindo da obra literária Suspiria de Profundis (1895) de Thomas de Quincey e das obras cinematográficas Suspiria (1977) de Dario Argento e Suspiria (2018) de Luca Guadagnino, este espectáculo-performance surge como resultado de um trabalho criativo a partir de premissas contidas nessas três fontes.
Poderá tratar-se de um rito, de um concerto, de um arranjo para os sons dos corpo. Os intérpretes surgem perante os olhos dos espectadores que, ao virem assistir à performance, tomam automaticamente a decisão de entrar no rito, de servir o rito, de
ser parte integrante do mesmo, produzindo, juntamente com aqueles corpos, uma energia presente, bruta.
Procura-se aqui um objecto cru, que potencie ao máximo essa criação presente e actual da produção do ritos e do espaço no momento presente
Esta proposta, de fazer com que os corpos e acções circulem por diferentes divisões do teatro, faz com que o próprio objecto imprima, inevitavelmente, aspectos inerentes ao universo cinematográfico de Suspiria: a ideia de que algo se passa nos corredores do edifício (em ambos os filmes, as personagens escutam sons nos corredores, e existe uma ideia de perigo, de assombração associada aos mesmos), o desconhecimento sobre o que é aquilo que se ouve do outro lado da parede, a sensação de fantasmagoria, o oculto, a revelação de algo, etc.
Este tom, que poderemos associar à ideia de “terror” ou “horror” contida em ambos os filmes (tanto no de Dario Argento como no de Luca Guadagnino) é acentuada neste objecto não só através da circulação dos corpos e das acções, mas também através da paisagem sonora que constitui este objecto: toda a sonoplastia deste Suspiria consiste na captação ao vivo de todos os sons presentes e produzidos no momento da performance. Ao captar os sons que vão ocorrendo nos diversos espaços do CAL, mesmo aqueles em que o público não se encontra, o sonoplasta estará a compor a partir de todos esses materiais uma ambiência que, mesmo ao variar de dia para dia, potenciará esse tonus acima mencionado.
SUSPIRIA no CAL – Primeiros Sintomas de 6 a 9 Fevereiro
Criação: Pedro Baptista
Interpretação e co-criação: André Pires, Bárbara Bruno, Carolina Dominguez, Filipe Baptista e Mário Coelho
Desenho de luz: Pedro Baptista
Registo fotográfico: Alípio Padilha
photo: Alípio Padilha
