Selma Uamusse mergulha nas raízes Moçambicanas com “Mati”

Selma Uamusse, a voz do gospel, da música soul, do jazz e até do rock’n’roll, aventura-se pelos sons tradicionais de Moçambique, no aguardado álbum de estreia. O resultado desenha-se entre as palavras e sonoridades de cada um dos temas que compõe “Mati”, um disco com selo Ao Sul do Mundo que chegou às lojas e plataformas digitais no passado dia 7 de setembro pela Sony Music

Do primeiro disco de Selma Uamusse, produzido por Jori Collignon (Skip & Die), já são conhecidos os singles de avanço “Ngno Utana Vuna” e “Mozambique”. Temas que lhe abriram as portas de festivais como o Bons Sons, Rock in Rio, Belém Art Fest, e ainda convites para concertos na Alemanha, França e Moçambique. Selma Uamusse já não é a “menina do coro” dos Wraygunn. Depois de participações com Rodrigo Leão, Throes+The Shine, Moullinex, Medeiros/Lucas, Joana Barra Vaz e Octa Push; Selma explora o teatro, com as peças Passa-Porte (André Amálio) e Ruínas (António Pires), e ainda, o cinema com Cabaret Maxime, o novo filme de Bruno de Almeida.

Até há pouco tempo, a música de Selma Uamusse respeitava outros estilos, bem distintos dos sons oriundos do seu país natal. Quase como se no processo ar􀆡s􀆟co, a formação de Selma em Portugal sobressaísse e, involuntariamente, ofuscasse as suas raízes musicais. Daí surgiu esta busca assumida pelo que a fez ser a pessoa e artista que é hoje.

 

Em visita fisica e, também, espiritual a Moçambique, Selma Uamusse concluiu que, mais do que assumir a tradição moçambicana como sua, a artista precisa de inventar uma outra forma pessoal de se relacionar com essas mesmas raízes. É por isso que Selma soa a uma explosão de géneros, pertence a muitos sítios e a sítio nenhum. Por mais incompleta ou até imperfeita que a relação com o seu país natal seja, a artista assume esta ligação como fazendo já parte da sua verdade. Assumiu, por isso, as letras em changana e em chope, integrou na sua música instrumentos tradicionais como a timbila e a mbira, e construiu uma música que, curiosamente, é tudo menos uma replicação de sons tipicos de Moçambique.

Este álbum é, pois, um manifesto pela harmonia procurada no mundo que nos rodeia. Isto é, apela ao aceitar o lado positivo no que, por vezes, tem tudo menos de bom, ao mesmo tempo que provoca em quem ouve um discurso de intervenção e de luta pela transformação numa sociedade menos distorcida. Em termos sonoros, é simplesmente uma lufada de ar fresco em todos os sentidos, onde a cantora se abastece de sons e partilha a sua identidade.

 

Recordando a entrevista com Selma Uamusse na edição de 2018 do Rock in Rio

 

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