Palco RUC regressa este mês… e o cartaz está finalmente revelado!

Em jeito de warm up para o Palco RUC 2022, foi no Atelier A Fábrica, em Coimbra, que se apresentou, domingo à tarde, o cartaz daquele que é um palco inteiramente organizado pela Rádio Universidade de Coimbra,

 

A abrir a primeira noite, 20 de maio, ao palco sobem Palmers, pela 1h30, seguindo-se NOIA, pelas 2h40, e finalmente Coco Bryce, pelas 04h00. A abrir e a fechar a noite há ainda o DJ RUC Rest Function.

 

Das Caldas da Rainha chegam-nos Palmers, banda de punk rock formada em 2017 por Raquel Custódio (voz e bateria), Cláudia Brás (baixo e voz) e Vasco Carvalheiro (guitarra). Até à data, contam já com dois EP lançados: “Younger Days” (2018) e “Running Thoughts” (2019). Deste então têm saído à rua vários singles, sendo “Seasonal Affective Disorder”o mais recente, lançado no passado dia 16 de abril.

 

Segue-se a co-fundadora da editora portuense XXIII e DJ NOIA, cujos sets tendem a ser metaforicamente aludidos a viagens improváveis pela música club, desde os Hard Drums, beats africanos e brasileiros, com passagem pelas ballrooms de Nova Iorque até ao Bass londrino. Este ano, NOIA juntou-se à francesa Source Radio, onde apresenta o seu programa bi-mensal “CLUB NOIA Radio”, com direito a guest mixes. No mesmo ano, cria “CLUB NOIA CLUB”, a personificação do seu programa de rádio na cave escura do Passos Manuel, no Porto, com uma curadoria dedicada às mulheres DJ e à cena club queer. NOIA já tocou com nomes como Branko, TSVI, Amor Satyr, Tommy Kid, Full Crate, MikeQ e Flaca, um pouco por toda a Europa.

 

Finalmente, é dos Países Baixos que nos chega Coco Bryce, DJ e produtor principalmente encontrado entre os trilhos do Skweee e o Hip Hop, mas também no 8bit e no Dubstep – géneros que ocasionalmente se complementam com toques de Rave. Coco Bryce dirige ainda uma gravadora – a Myor.

 

A noite de sábado, 21 de maio, conta com Cancro, pela 01h15, Sha Ru, pelas 03h45, e The Empire Line, pelas 05h00. Há ainda DJ’s RUC Arrogant Menace pelas 23h e Spinning Jenny pelas 02h30.

 

Cancro são a banda nascida das cinzas das fogueiras de cantautores e vieram para lhes queimar as violas, punk feito de 0’s e 1’s aos berros pelo ser humano em cima de guitarras sujas e chorosas” – assim se auto-definem Cancro, projeto nascido da Haus e por detrás do qual estão Tiago Lopes, José Penacho (Marvel Lima e Riding Pânico) e Fábio Jevelim (Paus e Riding Pânico). O álbum de estreia do trio chama-se ” + “, e foi editado apenas digitalmente, com vendas a reverterem na totalidade para o Instituto Português de Oncologia (IPO).

 

Ora em Berlim, ora em Nova Iorque encontramos Sha Ru, duo composto por Masha Koblyakova e Ruggero Cavazzini. Além do trabalho desenvolvido com a gravadora Sorry Records (Brooklyn), Sha Ru têm já o seu próprio selo – a editora Kindergarten Records. Em dezembro do ano passado lançaram “Volcanic December”, faixa que integrou “Infinite Machine 10 Years Compilation”, compilação de 19 temas e variadas colaborações a assinalar o décimo aniversário da gravadora mexicana Infinite Machine.

 

De Copenhaga chegam The Empire Line, formados em 2016 e compostos por Christian Stadsgaard (Vanity Productions e co-fundador da Posh Isolation), Jonas Ronnberg (Varg2TM) e Klaus Hansen (vocal). Sendo Christian uma lenda do Noise, não é de estranhar que seja esta a principal linha de orientação musical de Empire Line. Nela conflui o ruído metálico atordoante que transgride os cânones do Techno. Pela Bassiani (Tbilisi, Georgia) – um dos pilares mais incisivos no panorama Techno, The Empire Line lançaram o EP ” The Nature of Your Oppression is The Aesthetic of Our Anger”, em janeiro de 2020. A vingar 2020 – ano em que The Empire Line estavam comprometidos com a edição do Palco RUC desse ano, trazem agora  às margens do Mondego a catarse na forma de um híbrido entre o Industrial, o Techno, o Noise e o Power Electronics, auxiliados pelos vocais gritantes de Klaus.

 

 

Domingo é a vez de Cigarra, pela 01h da manhã, seguida de Mc Yallah & Debmaster, pelas 03h30, e a fechar a noite DJ Saliva, pelas 04h30. Há ainda o DJ RUC Sanchez, pelas 23h e 02h30.

 

De São Paulo para Lisboa, Ágatha Barbosa (a.k.a. Cigarra), destaca-se pela fundação do Voodoohop e pela sua participação como co-produtora no experimental “Projeto Roda de Sample”, cuja premissa se baseia em desenvolver “sample jams” ao vivo. Em 2016, Cigarra lançou o EP “Límbica“, e em 2018 “Ato” pela Tropical Twista Records, gravadora onde também é diretora, tal como em Hystereofônica – gravadora independente com um programa mensal na Rádio Quântica, em Lisboa, e que conta já com dois volumes e mais de 60 mulheres envolvidas.

 

Radicado em Berlim e natural do Porto, DJ Saliva (Mauro Ventura) é artista visual e fundador da Arena Spa Superiora, promotora  radicada no Porto e que está quase a celebrar oito anos. Em 2020, DJ Saliva juntou-se ao berlinense CEM, das famosas festas Herrensauna, em Dragon’s Breath, colaboração que integra a mais recente compilação da editora grega Magdalena’s Apathy, “Infierno Eterno”. CEM juntou-se também ao b2b entre DJ Saliva e Salome em novembro do ano passado, a propósito do sétimo aniversário da Arena Spa Superiora.

 

 

A última noite de Palco RUC enceta com Aurora, pela 01h da manhã, atuação que precede a de Kelman Duran, pelas 03h00, ao qual se segue Badsista, pelas 04h30. Pelo meio contamos com a DJ RUC Midori, pelas 23h e pelas 02h10.

 

A emergir de uma multidisciplinaridade que lhe pauta os dias, onde a música anda de braço dado com as artes performativas, Aurora é a primeira aparição da última noite do Palco RUC. Depois de “Uterus” (2019), trabalho em que apontava a carne que se lhe apodrecia, o almejar por nova carne, quiçá capaz de lhe devolver a pertença, e que Aurora endereça “a todo o poder trans e queer que a inspirou pelo mundo”, no ano passado saíram à rua dois trabalhos: “Flesh Against Flesh”, em março, e “Nympho Maniac“, em junho.

Como se de um confronto do ‘eu’ que se dá por via de um em diálogo entre a recência e o vestígio, “Flesh Against the Flesh” traz 15 temas, alguns deles fruto de colaborações, como é o caso daquela que se deu com Odete, que havia já colaborado em “Uterus”, e a quem se juntam nomes como Misfit Trauma Queen, Moullinex e nëss.

Durante a primeira fase de uma pandemia que nos obrigou a manejar os dias na procura de formas de resistir, Aurora fê-lo na Noruega, onde se encontrava em residência artística. Este pequeno advento de criação viria a coagular em “Nympho Maniac”, descrito pela mesma como “manifesto de empoderamento” sobre o trabalho que tem vindo a desenvolver nas várias áreas em que cria, desde a música à performance, passando pelo teatro e pela dança. Há neste álbum um léxico coreográfico que lhe é próprio, inspirado, em particular, pelas danças urbanas que marcaram um dos primeiros trilhos em que se moveu enquanto performer e bailarina.

De uma fervilhante fusão de noise, darkwave e industrial, resultou, no início de 2022, “⚔️ V. ⒶME3″ – EP onde há uma figura “Cyberpunk que transcende a mutante Queer. Com música grotesca, sangue alienígena e visuais 3D, queimo a antiutopia. Jogo na velocidade dos dragões e no limiar das katanas”, descreve Aurora. Aurora, voz gritante em lutas contra a transfobia e a objetificação feminna, e que na música diz ter encontrado uma “salvação” – oxalá salvação seja também para aqueles que a escutam.

 

De La Ermita (República Dominicana) para Los Angeles, o artista visual e produtor Kelman Duran vem conquistando pistas de dança mundo afora desde o seu álbum de estreia “1804 KIDS” (2017), sendo o seu mais recente disco “13th MONTH” (2018). À sonoridade de ambos é transversal uma fusão de ritmos afro-caribenhos com sons contemporâneos, com a particularidade de que os sons festivos e estridentes das diásporas africanas e afro-caribenhas – reggaeton, ggom, kuduro, dancehall e hip-hop são desconstruído para dar lugar a batidas etéreas e sugestivamente fantasmagóricas, que regularmente atraem multidões entusiastas pelos EUA, sobretudo nas cidades de Nova Iorque e Los Angeles.

 

Por sua vez, nascida e criada na cidade de São Paulo, Rafaela Andrade é o nome que está por detrás de BADSISTA. Desde 2013 – ano em que começou a carreira com uma formação em Produção Fonográfica (Production Phonographic), BADSISTA correu o Brasil, tendo apresentado várias das suas produções, as quais contam com os selos de editoras como Growllective (São Paulo), Man Recordings (Alemanha), Bruk Recordings (Rio de Janeiro), Buuum Trax (Skol (Brasil), Catuss Records (Argentina), Beatwise Recordings e Funk Na Caixa (ambas de São Paulo). Foi precisamente com o selo da última que lançou o seu EP de estreia, autointitulado BADSISTA, que traz seis temas – um deles com a colaboração de MC Lei Di Dai. BADSISTA é hoje nome e voz vitais no caminho pela defesa dos Direitos Humanos no Brasil, nomeadamente no que diz respeito aos da comunidade LGBTQI+, e na emancipação da mulher, em particular daquelas que habitam a periferia.

 

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