Preocupações de regeneração e sustentabilidade, inerentes à prática do Teatro do Frio (TdFrio), desembocam na estreia absoluta de “NU#03”, um espetáculo que propõe o encontro com o outro, ouvinte e lugar, a partir de um lugar de atenção e cuidado.
Integrado a programação da 45º edição do FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, “NU#03” repensa o espaço e perímetro cénico e o lugar do público. A partir da caixa de palco no Teatro Municipal do Porto – Campo Alegre, em três sessões nos dias 14 e 15 de maio, o TdFrio convida cerca de 20 pessoas a uma imersão na paisagem física, corpo e voz.
Composta exclusivamente por madeiras provenientes de florestas sustentáveis, minimizando a pegada ecológica do processo de trabalho, a cenografia é também plateia. Além de trabalhar a proximidade física, num período que reformula este conceito, o TdFrio propõe parar o tempo, dando espaço à escuta. Delimitado um baldio em formato uterino, a dimensão performática surge pela voz e texto original de Catarina Lacerda com apoio de Lígia Soares. Palavras, ideias e sensações traduzem uma comunicação que quer repensar o futuro. Frases de bolinhos da sorte chineses integram a narrativa, provocando os presentes a destinos utópicos. Depurado de musicalidade, a banda sonora da nova criação do TdFrio é composta unicamente por palavras e silêncios. O solo, preconizado por Catarina Lacerda, revela tanto a dimensão do intérprete como do público, elevando o recetor no processo de escuta. Poderá a criação de um lugar aparentemente vazio regenerar processos de comunicação?
Aberto o espaço à curiosidade sobre seres, temas e lugares fantasma, há ainda a possibilidade de participar nas conversas que seguem os espetáculos do dia 14 de maio.
“NU#03” conclui a trilogia de “NU”. No primeiro momento o coletivo investigou questões relacionadas com tipografia e topografia, texto e acústica, dando forma a uma instalação, performance e vídeo; num segundo momento, em regime de residência com quatro criadores multidisciplinares, o TdFrio partiu do território da palavra e da escrita como espaço de investigação, traduzindo-o na publicação NU#02.
