Foi apresentada, esta quinta feira 9 de fevereiro, na Sala 2 do Cinema São Jorge, a programação completa da 22.ª edição da MONSTRA.
O melhor do cinema de animação chega a Lisboa de 15 a 26 de março, e revela um elenco de filmes, exposições, masterclasses e encontros irrepreensíveis, com muitos convidados especiais. Nesta partilha da arte, através do universo mágico e ilimitado da animação, vão ser exibidos mais de 400 filmes de todos os cantos do globo (perto de 50 países representados), no Cinema São Jorge – o epicentro da MONSTRA -, na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, Cinemateca Júnior, UCI El Corte Inglés e Cinema City Alvalade. Ao todo, contam-se 8 estreias mundiais, 17 internacionais e 70 nacionais.
O centenário da animação portuguesa vai marcar os 12 dias do festival que continua a distinguir o passado, o presente e o futuro deste cinema, com a maior representação nacional de sempre em competição. Sob o tema deste ano, Animação e Cultura, a MONSTRA evidencia a inquietação assente na história da animação em Portugal, através de estéticas e olhares variados. Há 100 anos, o ilustrador Joaquim Guerreiro assinou o primeiro filme animado que se conhece, “O Pesadelo do António Maria”. Um século depois, “Ice Merchants” (em exibição e em 3 competições na 22.ª MONSTRA), do realizador João Gonzalez, é a primeira produção do país nomeada para um Óscar. A celebração deste valioso centenário, em parceria com a Cinemateca Portuguesa, vai também levar ao público filmes em estreia mundial e partilhar conversas através da MONSTRA Summit.
A Competição de Longas-metragens apresenta, entre outras, duas obras portuguesas, “Nayola”, de José Miguel Ribeiro, e “Os Demónios do Meu Avô”, de Nuno Beato, e uma co-produção entre França, Itália e Suíça, o filme em stop motion “No Dogs or Italians Allowed”, de Alain Ughetto, que vai estar no festival antes de entrar no circuito das salas de cinema. Na Competição de Curtas-metragens, destacam-se dois nomeados para os Óscares: “Ice Merchants”, do português João Gonzalez, e “The Flying Sailor”, das canadenses Amanda Forbis e Wendy Tilby, dupla que esteve presente na MONSTRA em 2019. “Amok”, de Balázs Turai (Roménia, Hungria), “Bird in the Peninsula”, de Atsushi Wada (Japão), “Letter to a Pig”, de Tal Kantor (Israel, França), ou “Steakhouse”, de Špela Čadež (Eslovénia, Alemanha, França) somam-se a esta categoria.
Há 13 curtas nacionais na corrida pelo Prémio SPA/Vasco Granja, entre elas, “O Casaco Rosa”, de Mónica Santos, “Garrano”, de David Doutel e Vasco Sá, e, novamente, “Ice Merchants”, de João Gonzalez.
Pontuam ainda as competições Perspetivas (onde se encontra mais um nomeado para os Óscares de 2023, “My Year of Dicks”, de Sara Gunnarsdóttir), Curtas-metragens de Estudantes, Curtíssimas e MONSTRINHA – o braço do festival dedicado às crianças e famílias, onde concorrem “Fairy Horses”, de Oksana Nesenenko (Ucrânia), “I’m not afraid!”, de Marita Mayer (Alemanha, Noruega), e 3 películas de Julia Ocker (Alemanha): “T-Rex”, “Cat” e “Squirrel”.
Os 480 anos da amizade entre Portugal e o Japão são o mote para a homenagem da MONSTRA à “riqueza, emoção, fantasia e poesia da animação japonesa”, como sublinha o diretor artístico do festival, Fernando Galrito. Esta viagem cinematográfica começa nos mestres do início do século XX, com filmes históricos, e termina nos de hoje, com um naipe do melhor da animação contemporânea nipónica. Realizadores como Atsushi Wada, Osamu Tezuka, Eiichi Yamamoto e Noburô Ôfuji são alguns dos protagonistas deste itinerário que também homenageia a obra da dupla Renzo e Sayoko Kinoshita, e convida Koji Yamamura, uma das presenças confirmadas este ano, através de uma exposição com 50 desenhos originais de 4 dos seus filmes, de uma retrospetiva dedicada aos mestres japoneses, com a sua curadoria, e de uma masterclass, tudo no Museu do Oriente, onde a MONSTRA regressa 15 anos depois. O legado do Studio Ghibli não podia ficar de fora desta edição, com 7 clássicos, entre os quais “Ponyo”, “Porco Rosso”, “The Tale of the Princess Kaguya” e “The Red Turtle” – a primeira coprodução do estúdio de animação com a Europa, em 2016, pelo holandês oscarizado Michaël Dudok de Wit, que visita Portugal pela primeira vez e leva a cabo uma masterclass acerca do processo criativo deste filme. “Akira”, “Demon Slayer” e “Paprika” são mais anime alinhados, assim como uma amostra da nova geração da animação japonesa, pelas universidades de Tama e Tóquio, e uma conversa sobre a magia deste cinema nipónico, com o historiador japonês Ilan Nguyên e a portuguesa especialista em Hayao Miyazaki, Cátia Peres. Para início do festival está reservada a estreia mundial de um filme criado expressamente para a 22.ª MONSTRA, por jovens japoneses, com música ao vivo, e ainda a exibição exclusiva de “Inu-Oh”, a mais recente obra de Masaaki Yuasa, considerada uma pérola entre os fãs de anime.
Fora da competição, destaque especial para o programa que revela criações vindas de países que partilham a língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal), AnimaCPLP.
A sessão Animação Experimental, este ano, com a curadoria de Noël Palazzo, codiretora do festival Punto y Raya (Barcelona), apresenta uma seleção de filmes abstratos e animações produzidas no Japão, entre 2007 e 2021, onde são exploradas diversas técnicas, do desenho à mão ao stop motion.
Entre os históricos homenageados na MONSTRA, regressamos à fundação da Walt Disney Company, há 100 anos, altura em que estreou a primeira curta-metragem do mestre norte-americano, “Alice’s Wonderland”, recordada agora numa sessão MONSTRINHA, na Cinemateca Júnior. A sessão segue com títulos da mesma década: “Steamboat Willie” (a primeira curta da Disney sincronizada com som, onde se estreia o rato mais pop de todos os tempos, Mickey Mouse) ou “The Skeleton Dance”. “Peter Pan”, também da Disney, e “Old Czech Legends”, de Jirí Trnka, comemoram 70 anos em 2023 e são revisitados no festival
A acrescentar às Retrospetivas e Homenagens, vão desfilar trabalhos do croata Borivoj Dovniković e do israelita Gil Alkabetz, ambos desaparecidos em 2022, e ainda uma mostra imperdível de filmes ucranianos. No dia de abertura da 22.ª MONSTRA, a 15 de março, a festa é na Sociedade Nacional de Belas Artes, com um tributo ao artista e realizador alemão Raimund Krumme, ilustre convidado nesta edição, com a inauguração de uma exposição site-specific (até 1 de abril), em que, durante três semanas, vai intervir nas paredes do Salão daquele espaço cultural.
No compromisso da MONSTRA com o programa expositivo, acontecem mais dois momentos, mas que celebram um século desde a exibição de “O Pesadelo do António Maria”, de Joaquim Guerreiro. Na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, “100 anos da animação portuguesa” (2 de março a 2 de junho), percorre a história deste cinema até 1985, altura em que estreou “Oh que Calma”, de Abi Feijó, e, no Museu da Marioneta, “Marionetas que Guardam o Tempo” (23 de fevereiro a 23 de abril), mergulha no passado e no presente, através dos acessórios, cenários originais e marionetas que integram filmes icónicos e outros em estreia absoluta na MONSTRA, de animação de marionetas, made in Portugal.
Também fora do ecrã, a Koji Yamamura e Michaël Dudok de Wit, juntam-se dezenas de outros convidados, em Lisboa, para conduzirem masterclasses e workshops únicos, como Joan C. Gratz, Joanna Quinn, Les Mills, Martin Smatana, Florence Miailhe, Maya Yonesho, José Miguel Ribeiro, Bruno Caetano, Nuno Beato ou Tal Kantor.
Nesta desafiante e diversa programação, a MONSTRINHA vai assinalar mais uma edição de luxo com os encantos mil do cinema de animação para milhares de crianças e famílias. MONSTRINHA Baby e MONSTRINHA Pais e Filhos são alguns dos programas que preenchem os fins de semana, com curtas e longas metragens, e sessões no Cinema São Jorge, Museu Nacional de Etnologia, Centro Cultural de Carnide e Centro de Artes de Sines. A MONSTRINHA Vai à Escola (13 de fevereiro a 10 de março) e a MONSTRINHA Escolas (15 a 26 de março), até agora, com 7000 e 5000 inscritos, respetivamente, trazem propostas nas e para as escolas de todo o país.
Sobre a 22.ª edição do Festival de Animação de Lisboa, Fernando Galrito explica que esta é “uma MONSTRA que comemora centenários, mas que mantém o olhar e uma programação vanguardista, qual manifesto de imagens em movimento, de pensamentos e de arte”. Uma constante inquietação.9