ModaLisboa Insight… Nuno Gama apresentou “Mutantes”

Nuno Gama forma-se em Design de Moda pelo Citex, no Porto. Inicia muito cedo a sua colaboração com a indústria têxtil e começa a vender as suas coleções em lojas selecionadas de Lisboa e Porto. Em 1993 lança a sua marca homónima, que apresenta, desde então, na ModaLisboa – Lisboa Fashion Week.

Mutantes…
Embora sedentários, neste momento de grande mutação, temos que nos mexer bem, rápido e velozes, como o tempo das estações, pois nada nem ninguém espera por nós. Queremos presenciar e ser a evolução humana que se aproxima. Cremos que da dúvida nasce a solução: De que massa somos feitos? Que herança transportamos? Que valor atribuímos ao que realmente desejamos? Conscientes de que somos mais próximos do que desejamos do que na realidade somos e no permanente desafio de aceitação dos caracteres marcadamente diferentes dos da nossa ascendência.

Viajámos por isso a um passado recente de códigos de vestuário dos anos 30 e reconstruímos um look formal onde as lãs de aspeto rústico se evidenciam das de grande nobreza, em justaposições obrigatórias de fato 3 peças, sem dispensar o sobretudo, camisa de colarinhos redondos, branquinhos com riscados bicolores, ora engalanadas de lacinho gravateiros ou abertas revelando a camisola interior, de botões. A calça curta, mas mais direita, é segura por suspensórios e valorizada, tanto por sapatos de atacador como por botins ou franjados: A boina traz de volta o “pintas” com tanto de naif como de estiloso.

Desenhámos “casacos mochila”, como simbologia do que carregamos no dia a dia, na maravilhosa aventura que é a vida e a viagem intergaláctica da alma. Criando um look mais casual em que a gola alta continua muito senhora de seu nariz; os “abrigos” voltam em força e aí não se dispensa uma atitude mais prática, própria de qualquer viajante, pronto a galgar o mundo num confortável sneaker.

Desafiámos ainda as forças da natureza ao substituir botões por tiracolos, seguros por tic-tac’s e mosquetões a um único bolso gigante, espírito “mala”. Sentimo-nos assim próximos dos nossos valores, daqueles de que não abdicamos e que querermos connosco para a eternidade, na exigência de todas as novas experiências, instagramadas em grande estilo, nobilitadas ainda pela excelência da memória da pele.

Da penumbra desta noite fria, o meu mar azul atlântico continua cá, assim como a nobreza de garra encarnada e daqui de onde estou ou para onde vou, tenho os olhos carregados de verde esperança, que as minhas estrelas iluminam.

Tolerância máxima e em perfeita melodia: desde que bem “boinados” & calçados, os sobretudos destacam-se obrigatoriamente, acompanhados das suas golas altas, num certo regresso ao classicismo, agora de vanguarda, em justaposições de múltiplas opções, origens, línguas, credos & equipes de futebol, de malas na mão em viagem pelo mundo.

Fotografias: Paulo Homem de Melo
Reportagem: Liliana Pedro

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