“Menina Júlia” na Cossoul

Júlia é uma jovem condessa que, por trás do seu lado voluptuoso e provocador, esconde uma vida infeliz. Numa noite de S. João, Júlia e João, criado do Conde e noivo de Cristina, a cozinheira da casa, envolvem-se num jogo de sedução que rapidamente se torna uma luta de poder e de manipulação mútua: serão vítimas da sua condição. O violento choque de classes e o confronto entre sexos, dominam as relações do que será uma noite trágica.

A tensão dramática que acompanha Menina Júlia é dos aspectos que mais importam numa apropriação deste texto. Para lá dos elementos simbólicos relativamente explícitos ou das divagações psicologistas que lhe dão um tom datado, é no despropósito dos acontecimentos e na submissão desastrada das personagens à pulsão erótica e aos seus ressentimentos que nos reencontramos. A peça descreve o movimento e a vertigem dum par amoroso enredado numa casualidade que os esmaga e sacrifica. As suas estruturas existenciais (social, psicológica e emocional), desmoronam-se no momento em que usam da sua aparente liberdade para as transcenderem. Ficam eles, e só eles, a esgrimirem-se com palavras, olhares, reacções, impelidos pelos corpos, sedentos, algozes inadvertidos, expostos numa humanidade que não sabe o que fazer com toda aquela «roupagem moral» e que sai derrotada. O abismo que se abre fala-nos – aos gritos! – sobre a nossa vulnerabilidade.

É sobre este sítio que nos debruçaremos.

Autoria: August Strindberg

Tradução: Augusto Sobral

Encenação: Nuno Nunes

Interpretação: Anna Knipper, Graciano Amorim e Vera Lagoa

Assistência de cenografia e figurinos: Maria Cortê-Real

Vídeo: Paulo Quedas

Fotografia: Nico Scontrino

Cossoul (Lisboa)

1 e 2 de Dezembro 2017 | 21.30h