Lena d’Água dá vida às palavras da poetisa Cecília Meireles no TECA

Há quem diga que a poesia tem um embalo musical. Talvez por isso é que o “casamento” das palavras da poetisa Cecília Meireles com a voz da cantora Lena d’Água tenha surgido de forma tão orgânica. A ideia surgiu em 1979, quando José Caldas ainda estava a afirmar o seu nome no panorama teatral – neste momento, está quase a fazer 50 anos de carreira – e decidiu criar um espetáculo que cometeu a proeza de “maravilhar meninos e sisudos senhores grandes”, lançando as bases para um renovado teatro para a infância e juventude.

Quase quarenta anos volvidos, o encenador e dramaturgo regressa a Ou Isto ou Aquilo – Recital de Poesia e Música numa versão revista e atualizada.

Em Ou Isto ou Aquilo – Recital de Poesia e Música, um aluno recebe uma lição do professor, dando-se início a uma viagem pelo mundo da imaginação onde descobrem o prazer de estar juntos e se cruzam com personagens imprevistas: uma menina “que não quer nem festa nem beijo, nem doce nem queijo”, duas velhinhas que “falam das suas lembranças” ou um mosquito esquisito que “sabe escrever o seu nome”. O espetáculo tem música de Luís Pedro Fonseca, sendo uma viagem musical que embala e desperta, com o objetivo de apresentar uma obra sem paternalismos, deixando, nas palavras de José Caldas, “espaço na folha para que o público também possa rabiscar o seu imaginário”.

Para Eugénia Vasques (professora, crítica e analista de teatro), o Ou Isto ou Aquilo – Recital de Poesia e Música reinventou o conceito do teatro infantojuvenil, num Portugal acabado de sair da ditadura salazarista. “Cunhado pelo próprio [José Caldas] como ‘teatropoesia’, o teatro que veio aqui construir para os mais novos e para todos os públicos assentou, claramente, nas coordenadas que lhe têm modelado a biografia profissional. (…) um ‘teatropoesia’ feito de atmosferas, mudanças, opostos, ritmos e diferenças”, acrescenta Vasques. A própria história do encenador não deve ser esquecida: José Caldas é ele, próprio, um neto da cultura brasileira, tendo chegado a Portugal de Itanhandu, Minas Gerais, Brasil.

Segundo defende Eugénia Vasques no programa do espetáculo, as palavras de Cecília Meireles configuram-se em si mesmas uma “divina escrita cénica”. Alta expressão da poesia feminina brasileira, Cecília Meireles inclui-se entre os grandes valores da língua portuguesa do século XX, tendo fundado a primeira biblioteca para a infância no Brasil. Por seu lado, Lena d’Água inicia a sua carreira musical em 1976, tendo marcado o panorama e a história da música portuguesa, ao ser a primeira vocalista feminina a integrar uma banda de rock em Portugal, os Beatnicks, e um sex symbol dos anos 80.

Ou Isto ou Aquilo – Recital de Poesia e Música é uma coprodução TNSJ e Quinta Parede – Associação Cultural, com apoio da Sociedade Portuguesa de Autores. A interpretação está a cargo de Lena D’Água (cantora), José Caldas (ator) e Tahina Rahary (músico).

Estreia a 14 de dezembro, no Teatro Carlos Alberto (TeCA), no Porto e pode ser visto até 17 de dezembro: quinta-feira, às 10h00; sexta-feira, às 15h00; sábado, às 19h00; e domingo, às 16h00

 

photo: Vitorino Coragem

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