Jonah Parzen-Johnson… I Try To Remember Where I Come From

O que este caucasiano nascido num bairro afro-americano faz é cruzar “a grande música negra” com a folk “branca”.

Na promoção do seu trabalho a solo, Jonah Parzen-Johnson coloca um “sounds like” que só parcialmente nos elucida, porque é importante que descubramos por nós mesmos as várias nuances da música que propõe: “A natureza emocionalmente evocativa da folk misturada com o poder das texturas de carácter experimental e ambiental, tudo executado ao vivo, sem loops nem sobregravações”.
Por meio de um saxofone barítono e de um sintetizador analógico, o que ouvimos poderia parecer um coro dos Apalaches se uma parte deste não soasse eletrónico, com um sax a serpentear pelas nuvens de som que é tocado com técnicas de respiração circular e com multifónicos. As melodias são, sem dúvida, folclóricas, de tão simples e simpáticas para o ouvido, mas deteta-se no trabalho saxofonístico a forte herança de Chicago, designadamente a do free jazz da Association for the Advancement of Creative Musicians, o que significa que acaba por vencer algum abstracionismo – sempre conduzido por uma abordagem meditativa e até onírica. O campo a que chamamos jazz inclui tudo o que se possa imaginar, mas dificilmente algo assim de tão diferente.

Não, nenhum parentesco há entre Parzen-Johnson e o inglês que utiliza os mesmos instrumentos, John Surman. A diferença está na beleza crua da música deste cidadão de Brooklyn. Se Surman explorou as possibilidades do saxofone barítono, acompanhando-se também de sintetizadores analógicos, com rara beleza, Parzen-Johnson junta-lhe uma crueza ausente na música do inglês.

 

Culturgest (Lisboa)

13 de Abril 2018 | 21.30h

Partilha