Graciosidade de Angel Olsen volta a conquistar Guimarães

Angel Olsen está de volta a Portugal e atua em Guimarães a 13 de maio antes de rumar à capital. Num concerto em que se apresenta aparentemente desprotegida, sozinha em palco, apenas munida da sua voz e guitarra, a artista norte-americana faz-se valer da sua inebriante capacidade vocal e presença carismática para preencher a curiosidade de uma sala repleta de público que anseia testemunhar o seu regresso a território luso. Não bastasse um (já longo) percurso de sucesso e qualidade comprovada, neste concerto acrescem os mais recentes trabalhos da artista, que apenas vêm comprovar que estamos perante uma das mais entusiasmantes intérpretes da atualidade.

Com uma voz despretensiosa e intemporal e uma aura que emana graciosidade, Olsen permanece magistralmente no limbo entre os distintos universos do rock e da pop, sendo que nenhum rótulo lhe serve ou basta. Depois de ter passado por Guimarães no festival Manta, em 2015, momento de grande regozijo para o público que então teve oportunidade de se confrontar com o promissor talento, é agora tempo de voltar a ver e ouvir uma das mais talentosas artistas da sua geração. Na verdade, Angel já conhece o calor do público do CCVF desde 2011, altura que se estreou nas salas vimaranenses ao partilhar o palco com Bonnie Prince Billy, num concerto que esgotou igualmente o Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF).

Angel Olsen mistura com mestria e desenvoltura os géneros que lhe conferem uma personalidade musical carismática. Nos anos recentes, a artista presenteou o público com dois trabalhos, “My Woman” (2016) e “Phases” (2017), em registos bem diferentes. Se, por um lado, o primeiro revela a confirmação da estrela em ascensão que pressentíamos no trajeto até aí traçado, com músicas fortes que confirmam um salto definitivo na sua carreira, “Phases” é um disco mais intimista onde compila raridades e covers, gravadas em diferentes momentos da sua carreira. Em “My Woman”, Olsen rasga um pouco o lado mais sombrio e solitário a que lhe associávamos o registo para desbravar territórios mais luminosos e efervescentes. Uma artista que não tem medo de trilhar novos caminhos e que, assim, acrescenta novas camadas à sua música, agora num registo mais pop.

Contudo, a aura permanece intacta, uma alma antiga de voz poderosa que faz com que o público mergulhe nas histórias que nos conta. Sentimos-lhe o poder no olhar altivo mas sempre tímido, e percebemos que é com este disco que se afirma a mulher segura e a artista consagrada. Não se trata de uma rutura com o percurso de até então, mas antes um passo evolutivo de quem tem ganas de mundo, de quem quer explorar novos percursos sem temer a crítica fácil que daí possa advir.

Assim, Olsen avança de um folk mais soturno para um som mais rock’n’roll, ao bom estilo americano, a fazer lembrar os discos que moravam nas jukeboxs das idas décadas de 50 e 60. Por sua vez, em “Phases” conseguimos deslindar-lhe as influências que a transformaram na artista que é hoje. Como a própria disse, é como um diário que lhe foi roubado e tornado público. Olsen transpira um estilo muito próprio, uma storyteller tímida que surge em palco e que se vai conquistando a si mesma e à plateia com canções em que a sua voz consegue visitar diferentes predominâncias. Neste trabalho, as músicas de Olsen são mais despidas do ponto de vista sonoro, o que realça com simplicidade a sua voz e melodias. “Phases” pode bem ser o trabalho que descodifica a artista e a pessoa, quase que um catálogo de influências onde lhe lemos os gostos e as narrativas que culminaram no que é hoje.

Angel Olsen, cujo percurso se escreveu desde os tempos de “Half Way Home” e “Burn your Fire for no Witness”, regressa a Guimarães agora mais madura e confiante no seu enorme potencial artístico. Contudo, podemos esperar um concerto de cariz intimista de quem segreda ao ouvido. As suas músicas pedem esse registo e ele sai-lhe naturalmente pela voz e pelos gestos, pela forma como manuseia a guitarra, sua melhor amiga nestes tempos em que anda na estrada. Sozinha, tomará conta do palco que será uma extensão dela mesma, para nos cantar e encantar com o seu admirável repertório, convidando o público a deixar-se embalar por músicas que pintam imagens, letras que são histórias e melodias que são banda sonora da vida que tanto queremos respirar.

No próximo dia 13 de maio, as luzes do Grande Auditório do CCVF acendem-se pelas 21h30 e anunciam fortes indícios de uma bonita noite de rendição musical.

 

photo: Paulo Homem de Melo / Arquivo Glam Magazine

 

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