Está de regresso o Festival CriaSons, um dos principais eventos nacionais dedicados à música erudita. Assumindo, desde 2011, a missão de promover e divulgar amplamente a criação contemporânea, à 4.ª edição, o CriaSons aposta na reabilitação de um género performativo muito impactante para a cultura musical nacional da segunda metade do século XX: o Teatro-Música.
E fá-lo homenageando o seu arquétipo, Constança Capdeville (1937-1992), a compositora, pianista e pedagoga portuguesa responsável por cunhar esse termo, por vezes erroneamente confundido com a expressão teatro musical.
Profundamente originais, modernas e iconoclastas, e bebendo inspiração a John Cage ou Edgar Varèse, as suas obras são criações contemporâneas únicas que combinam diversas expressões artísticas e elementos tecnológicos, que repensam o conceito de música, de teatro e de dança, colocando novos desafios tanto à criação, como à interpretação. Em suma, um legado inestimável de um dos nomes de maior relevo da música em Portugal.
Prestando-lhe o devido tributo, o Festival CriaSons desafiou agora várias autorias a refletir sobre as obras de Capdeville, assumindo a sua liberdade criativa e de significados. Assim, serão apresentados seis programas projectados por um painel de Compositores Residentes do Festival: para já, confirmados, Constança Capdeville e António de Sousa Dias (antigo colaborador da compositora). Estes programas integram, naturalmente, o repertório de Capdeville, mas igualmente de artistas da sua afinidade como Mauricio Kagel, Miguel Azguime, Jorge Peixinho, Carlos Alberto Augusto, entre outros.
Com direcção artística do maestro Brian MacKay, coadjuvado pelo painel de Compositores Residentes, o Festival é, nesta edição, acolhido em Lisboa, pelo Teatro Aberto. De Novembro deste ano a Julho de 2023, vão estrear-se os seis programas, que irão depois percorrer várias cidades nacionais.
O primeiro programa a subir ao palco do Teatro Aberto é FE..DE..RI..CO…, criação de Capdeville de 1987, que mergulha na obra poética, plástica e musical de Federico Garcia Lorca, por ocasião do 50.º aniversário da morte do escritor espanhol. Dias 4 e 5 de novembro, às 21h30, é apresentada uma recriação moderna da obra de Capdeville, que, mantendo-se fiel ao objecto artístico original, procura pistas para a renovação do género Teatro-Música permitindo o seu acesso às novas gerações de intérpretes e espectadores.
photo: André Roma